Se tivesse um número de WhatsApp, o futebol brasileiro teria o seguinte status neste momento: sem rumo. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está sem presidente. Em 10 dias, haverá uma eleição depois que uma guerra de bastidores tirou Ednaldo Rodrigues, que havia se alçado ao poder depois de articulações internas. A Seleção está com um técnico interino. Havia uma conversa adiantada com Carlo Ancelotti.
Porém, era Ednaldo quem tinha entabulado a conversa com o italiano. Como ele foi tirado do cargo, Ancelotti percebeu a roubada em que estava se metendo e tratou de renovar com o Real Madrid. Lá, vai comandar uma seleção que joga todos os domingos, ganhar em euro e se incomodar menos.
Para completar o cenário, os clubes seguem em uma briga fratricida e sem chegar a um consenso para ganhar mais dinheiro. Parece loucura, mas eles estão perdendo a chance de sair do atoleiro por vaidade. Se não conseguem se sentar à mesa para criar uma liga que beneficiaria todos, é utopia pensar que pudessem aproveitar esse vácuo de poder para guindar um nome deles à presidência da CBF.
Um Zico, por exemplo. Sei que a fórmula para eleger um presidente da CBF exige, no mínimo, oito votos de federações (além de cinco de clubes). Mas o momento é de fragilidade do sistema vigente e de saber usar a potência da opinião pública.
Bom, como nada disso vai acontecer, partimos para a realidade. O desenho eleitoral apontava para Reinaldo Carneiro Bastos como nome mais forte a assumir a CBF. Mas ele não deve conseguir os oito votos necessários das federações. O outro seria Flávio Zveiter, porém, ele ainda precisa construir sua candidatura.
Nesse cenário, sem Ancelotti, podemos apostar em Abel Ferreira como principal nome ao comando da Seleção Brasileira. A resistência por ser estrangeiro foi quebrada pelos três anos em atividade nos trópicos. Também foi quebrada porque Ednaldo havia derrubado esse muro ao apontar Ancelotti. Abel faz um trabalho excelente no Palmeiras. Transformou o clube em máquina de vencer. Mas, mais do que taças, mostrou capacidade de montar e remontar seu time. Neste ano, ganhou o Brasileirão sem um substituto para Danilo e sem Dudu.
Há o temperamento contra si. Embora, ele já tenha melhorado, trata-se de um sujeito de posições firmes, que enfrenta a imprensa e diz o que precisa ser dito sem filtros. Isso melindra uma parte dos jornalistas e cria um ambiente de tensão permanente. Um colega que era assíduo nas coletivas do português no dia a dia do Palmeiras me relatou que as coletivas eram nervosas. Invariavelmente, um duelo. O que estressava a relação.
Caso Carneiro Bastos ou outro nome pudesse assumir o poder na CBF, posso apostar que esse ponto será o de menor relevância. Há, por óbvio, relação estreita do dirigente com os grandes paulistas e, por consequência, com o futebol paulista. Tanto que, no caso das ligas, os quatro grandes e o Bragantino ficaram unidos na Libra, cujas reuniões, muitas vezes, aconteceram na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF).
Portanto, é natural que, em caso de vitória de Carneiro Bastos na CBF, seus olhos estejam voltados para um técnico em alta no seu Estado. Onde está também Dorival Júnior, campeão da Copa do Brasil pelo São Paulo e da Libertadores e da Copa do Brasil pelo Flamengo. Porém, no meu ponto de vista, Dorival está a alguns passos de Abel nessa corrida.
Percebam que, nesse arrazoado todo, em nenhum momento citei Fernando Diniz. Mesmo ele sendo o técnico brasileiro de conceitos táticos mais inovadores. O ponto é que Diniz necessita de tempo para implantar seus conceitos, de treino, de dia a dia, de conexão com os jogadores. Nada disso a Seleção oferece. Temos data Fifa na segunda quinzena de março, contra a Espanha e a Inglaterra. E Copa América no final de junho. Os seis jogos de Diniz na Seleção mostraram que ainda há um longo caminho.
Como já perdemos um ano de um ciclo que será mais curto, o trabalho terá de ser de efeitos imediatos. Além disso, depois do Catar, houve um esvaziamento na estrutura técnica da Seleção. Tanto de nomes como dos processos implantados por Tite. Abel chegou ao Palmeiras com sua comissão montada e deu resposta rápida. Um processo que pode ser replicado caso seja o escolhido. Só teria de trocar a Avenida Paulista pela Barra da Tijuca. O que, convenhamos, está longe de ser um problema.