Posso dizer que escutei o hino da Champions League ao vivo. É uma experiência marcante para quem é apaixonado por futebol, como eu. Sou do tipo que assiste até as Copinhas da Federação, se o tempo permitir. Estar no Estádio Olímpico Lluis Company para um Barcelona x Porto, como você deve imaginar, é como passar algumas horas na Disney. Se o Bruno Henrique, do Flamengo, estivesse aqui na tribuna de imprensa, ao meu lado, tenho certeza de que ele comentaria: "Outro patamar". Isso que o Barcelona atravessa uma crise técnica, e o Porto é um time bem treinado e com alguns valores. Nada de extraordinário, para os padrões europeus. Porém, o nível técnico, a velocidade de ação e o duelo tático já bastam para servir uma boa mesa.
Só que, mesmo com todo esse nível de qualidade, com astros do quilate de Lewandowski, De Jong e Gundogan, falta um tempero que só nós, sul-americanos temos: vibração. A Liga dos Campeões é uma festa de gala. A Libertadores é festa de rua, com a aquela atmosfera e entusiasmo com a qual nos brinda. Os torcedores do Barcelona passaram quase toda a noite sentados. Só levantaram quando o Barcelona fez gol ou quando esteve muito perto dele. E na hora do hino do clube, antes do jogo, cantado a plenos pulmões. Aí eles vieram com força.
Não fosse a torcida organizada, algo como uma faixa equivalente a 15% da Geral do Grêmio ou da Popular do Inter, os donos da casa poderiam se sentir em um teatro no primeiro tempo. Apenas no segundo tempo, depois do 2 a 1, veio da arquibancada um sinal. Primeiro, com um breve "Barça, Barça". Depois, um "olê, olê, olê", que faz parte de um canto tradicional de torcidas aqui. Isso que o Barcelona distribuiu milhares de bandeirolas nos portões de acesso, para agitar a galera. Só que elas ficaram enroladas nas mãos. Elas só balançaram nos gols e no hino. O torcedor queria, mesmo, era ver o jogo.
A torcida do Porto, não. Quem veio para Barcelona desembarcou a fim. Eles passaram a noite inteira cantando no espaço destinado a eles, na superior, atrás de um dos gols. Por precaução, ali uma tela de três metros foi colocada. Mesmo assim, alguns deles atiraram objetos para o setor abaixo. O sistema de som, em português, pediu que parassem e alertou que os identificados seriam retirados. O mesmo recado veio pelo telão. Não houve mais incidentes, e o jogo seguiu.
No campo, o Barcelona superou suas dificuldades. Ronald Araújo foi, mais uma vez, misto lateral-direito e zagueiro pela direita. Cancelo, lateral-direito deslocado para a esquerda, foi destaque. No meio, De Jong e Pedri tentaram achar espaços e agradar a um Lewandowski que reclama de tudo. Raphinha, o nosso guri, foi escape, não se escondeu. Perdeu dois gols claros no primeiro tempo e quase fez um antológico no segundo, de voleio.
No Porto, Pepê, a cria de Eldorado, fez o gol dos portugueses. Jogou como um misto de meia e ala. Com a bola, ia pelo meio. Sem ela, fechava o flanco. Evanilson e Galeno, os outros brasileiros, até incomodaram no primeiro tempo. Ao final, o Barça venceu. Como disse o narrador português ao meu lado, foi uma noite da língua portuguesa, já que Cancelo e João Félix fizeram para o Barça, e Pepê, para o Porto. Eu gostei. Posso dizer que me senti em casa depois de ouvir o "Chaaaaammmmmpions".