Mais do que comportamentos ofensivos, de busca pelo controle do jogo e de dois técnicos vocacionados ao ataque, Inter e Fluminense conservam outra semelhança: apoiam seu jogo em um camisa 10. Alan Patrick e Paulo Henrique Ganso são os sobreviventes de uma estirpe cada vez mais rara, a dos meias raiz, aqueles que gerenciam as ações dos seus times e usam (muito) mais a cabeça dos que os pulmões. A definição da vaga na final passará, necessariamente, pelos pés deles.
Por coincidência, Alan Patrick e Ganso saíram da mesma fábrica. São "Meninos da Vila". O meia do Fluminense é de uma geração anterior e dois anos mais velho. Também tiveram partes dos seus direitos econômicos presos à mesma empresa, a DIS, do colorado Delcyr Sonda. Nos tempos de CT Rei Pelé, Alan Patrick sempre foi apontado como o sucessor de Ganso. Porém, como o meia acabou sofrendo lesão no joelho, o que atrapalhou usa evolução e retardou sua venda, o hoje camisa 10 colorado acabou saindo antes. Promovido em 2009, aos 18 anos, acabou vendido ao Shakhtar em 2011. Um ano depois, Ganso acabou negociado com o São Paulo.
O destino os recolocou frente a frente nesta semifinal. Não viraram camisa 10 da Seleção Brasileira, como se apostava lá atrás, mas chegam a essa semifinal como protagonistas. O futebol, é bom sempre frisar, pisou no acelerador do começo da década passada para cá. Ganhou dinâmica e reduziu espaços. O que só valoriza a longevidade dos dois meias. Em um jogo cada vez mais inenso e físico, eles conseguiram cavar seu lugar fazendo a bola andar e seus times pensarem enquanto correm. Podemos até apontar outros meias em atividade no Brasil, mas nenhum deles preenche os requisitos do camisa 10 clássico como eles. Raphael Veiga, do Palmeiras, Eduardo, do Botafogo, Lucas Lima, do Santos, todos são meias. Porém, correm mais com a bola do que fazem ela correr. Aqui reside a diferença de Alan Patrick e Ganso em relação a eles.
O mais curioso é que Eduardo Coudet e Fernando Diniz fizeram movimentos opostos para aproveitar a capacidade dos seus camisas 10. No Inter, Alan Patrick deu alguns passos à frente e passou a atuar, na estrutura inicial, como um segundo atacante. Ganso, por sua vez, deu passos para trás e virou um meio-campista que pensa o jogo numa faixa mais atrasada do campo. Nenhum deles, no entanto, guarda lugar. Estão livres para se movimentar e ocupar o espaço de onde conseguem enxergar o passe que ninguém mais vê.
Numa comparação direta entre os dois, Alan Patrick tem números melhores. Muito por essa aproximação de Enner e da fase ofensiva desenhada por Coudet. São cinco gols e quatro assistências na Libertadores. Ou seja, participou de 50% dos 18 gols marcados pelo Inter na competição. Ganso ainda não marcou gol. Porém, acerta 90% dos passes que dá e dá 84% deles no terço final do campo. Para nós, que nos deleitamos com o bom futebol, a quarta-feira reserva esse encontro. Aproveite, Alan e Ganso são os últimos de uma estirpe rara, a do camisa 10.
ALAN PATRICK
- Jogos 11
- Minutos por partida 86
- Gols 5
- Frequência de gols 189 min
- Gols por partida 0.5
- Chutes por jogo 2.5
- Chutes no gol por partida 0.9
- Grandes chances perdidas 0
- Conversão de bola parada 50%
- Gols de dentro da área 4/12
- Gols de fora da área 1/15
- Assistências 4
- Ações com a bola 62.1
- Grandes chances criadas 4
- Passes decisivos 2.7
- Passes certos por partida 34.5 (85%)
- Passes no próprio campo 9.5 (91%)
- Passes certos no terço final 25.6 (78%)
- Interceptações por jogo 0.8
- Desarmes por jogo 1.0
- Bolas recuperadas por jogo 5.1
- Disputas de bola vencidas 6.8 (54%)
- Perda da posse de bola 14.1
PH GANSO
- Jogos 10
- Titular 10
- Minutos por partida 76
- Gols 0
- Chutes por jogo 1.0
- Chutes no gol por partida 0.4
- Grandes chances perdidas 1
- Gols de dentro da área 0/4
- Gols de fora da área 0/6
- Assistências 1
- Ações com a bola 65.6
- Grandes chances criadas 1
- Passes decisivos 1.4
- Passes certos por partida 48.4 (90%)
- Passes no próprio campo 17.4 (93%)
- Passes certos no terço final 31.4 (84%)
- Interceptações por jogo 0.6
- Desarmes por jogo 0.7
- Bolas recuperadas 0.4
- Bolas recuperadas por jogo 3.6
- Disputas de bola vencidas 2.1 (40%)
- Perda da posse de bola 9.7
*Números do Sofascore