O empate por 2 a 2 na partida de ida da semifinal da Libertadores, no Maracanã, na noite desta quarta-feira (27), entregou com quatro gols um duelo que mostrou bem a forma como Eduardo Coudet e Fernando Diniz pensam futebol. Em jogo cheio de alternativas, a expulsão de Samuel Xavier no final da primeira etapa permitiu ao Colorado ter superioridade no segundo tempo, o que deixou um gosto amargo no lado gaúcho pela vitória escapada.
O Desenho Tático de GZH mostra como foi o duelo entre os dois treinadores com veias ofensivas no Rio de Janeiro.
Como começaram
Coudet e Diniz não apresentaram nenhuma surpresa nas escalações. O argentino fez a troca esperada na lateral do Inter com Hugo Mallo no lugar de Bustos e os retornos de Vitão e Johnny após lesões. No Fluminense, Ganso retornou na vaga de Alexander com a formação das quartas de final mantida com André como único volante e John Kennedy ao lado de Cano no ataque.
Ainda que o Fluminense tenha tido o seu habitual domínio da posse de bola (64% a 36%), o Inter não se postou de maneira defensiva no primeiro tempo.
Coudet havia respondido em tom de brincadeira depois da derrota para o Athletico-PR, na semana passada, que o Rio de Janeiro não tinha altitude a um questionamento se a postura no Maracanã seria parecida com a apresentada diante do Bolívar, em La Paz, na fase anterior da Libertadores. Ali foi um aviso de que o Inter seria ofensivo no Rio de Janeiro, o que de fato aconteceu.
Por momentos da primeira etapa até faltou uma melhor organização na fase defensiva para os dois times, que alternaram chances de gol. Foram seis oportunidades claras nos primeiros 10 minutos, três para cada lado. O gol poderia ter saído de qualquer lado, mas veio para os cariocas. Com o time gaúcho quase todo no campo de ataque, Arias pressionou Renê e roubou a bola, que chegou até Cano tendo John Kennedy como último passe.
Como a equipe estava em organização ofensiva e Mallo adiantado para ser o homem da amplitude (quando o Inter teve a bola, o espanhol exerceu o mesmo papel que costuma ser de Bustos), não houve tempo para recomposição do lateral direito. Foi ali que Cano recebeu livre e finalizou para superar Rochet.
Os momentos após o gol foram de maior controle do Fluminense. No lado de fora do campo, Coudet gritava para o Inter ter inteligência. O time gaúcho não se afobou em desvantagem enquanto os cariocas optaram por rodar mais a bola. Foram os minutos calmos de jogo antes de o Inter voltar a atacar.
Enner Valencia, que havia iniciado caindo pelo lado direito tentando explorar a falta de velocidade de Felipe Melo, passou a atacar pelo lado esquerdo também levando vantagem sobre Nino. O Inter teve três oportunidades claras de gol. Fábio salvou em tentativas de Wanderson e Alan Patrick. Ganso apareceu para cortar na área uma bola de Valencia para Alan Patrick, que deixaria o camisa 10 livre. A reta final do primeiro tempo teve domínio do Inter ainda que Rochet tenha feito milagre em finalização de Keno.
Aos 45, o lance determinante para o andamento do jogo. Já amarelado por falta em Valencia, Samuel Xavier voltou a derrubar o equatoriano e acabou expulso. Fernando Diniz optou por não mexer e apenas recuou Arias para ser lateral. Ninguém ocupou o espaço à frente que era antes do colombiano e Renê passou a atacar com total liberdade. Aos 50, totalmente livre, Renê cruzou na medida para Hugo Mallo igualar o placar.
Com Arias como lateral, Renê ficou sem marcador após expulsão de Samuel Xavier:
O primeiro tempo terminou em 1 a 1 com um total de 13 finalizações, sete do Inter e seis do Fluminense. O Colorado também acertou mais o alvo, quatro contra três.
As mudanças
Fernando Diniz optou por fazer três trocas para a etapa final. Guga foi a reposição para Samuel Xavier com John Kennedy sendo sacrificado. Felipe Melo e Ganso saíram para entradas de Marlon e Alexander, duas opções por maior energia. O Fluminense passou a se posicionar em 4-4-1 com apenas Cano na frente. No Inter, Coudet tirou o amarelado Johnny para entrada de Rômulo mantendo a estrutura da equipe.
Com um a mais, o Inter passou a ter o controle da posse de bola na volta do intervalo (teve vantagem de 54% a 46% no segundo tempo). Como poucas vezes visto, o time de Diniz se posicionou atrás marcando perto da área de Fábio. A superioridade colorada chegou a virar gol aos nove minutos, quando Mallo cruzou da direita e Mercado apareceu para cabecear. O lance, porém, foi invalidado pelo VAR porque a bola tocou no braço do argentino após o cabeceio.
Mas o grito de gol preso com Mercado foi solto por Alan Patrick. Aos 18, novamente a jogada começou com Renê e teve Valencia como assistente. O equatoriano tocou para Alan Patrick às costas de Marcelo. O camisa 10 teve toda a categoria do mundo para bater na saída de Fábio e virar o placar.
Curiosamente, a jogada do gol iniciou com Renê logo após o Fluminense sair da postura inicial de marcar recuado e ter tentado adiantar a marcação, algo habitual do time de Diniz.
Após o gol, Coudet fez mais três trocas. Primeiro, Bruno Henrique entrou por Aránguiz. Depois, Dalbert e Lucca entraram por Mauricio e Alan Patrick. Com Dalbert ocupando o lado esquerdo meio-campo, Wanderson passou a jogar pela direita. O Inter teve boa chance para o terceiro gol justamente com Wanderson após longa troca de passes.
Quando o jogo parecia sob controle, Renê voltou a perder uma saída de bola para Arias, o que gerou um escanteio para o Fluminense. Na cobrança, Nino cabeceou e Cano apareceu para desviar para as redes. O lance teve um erro de Vitão, que marcava o zagueiro do Fluminense no começo da jogada e perdeu a referência no movimentação do adversário. Dentro da pequena área, Mallo não conseguiu impedir o desvio de Cano, que não deu chances para Rochet ao definir para o 2 a 2.
Além dos quatro gols, o jogo teve um total de 22 finalizações, 12 a 10 para o Inter. O Colorado também acertou mais o alvo, sete contra cinco. Coudet cumpriu a promessa de ir ao Maracanã atacar mesmo quando havia igualdade numérica. Diniz iniciou com apenas um volante, até deu um passo atrás no começo do segundo tempo, mas adiantou sua equipe tendo um homem a menos para buscar o empate.
Coudet e Diniz entregaram um jogo cheio de alternativas ao não abrirem mão da maneira como pensam futebol, de que o ataque é a melhor forma para buscar as vitórias.