Felipinho escolheu a Argentina. Perdemos esse, podem lamentar. Os hermanos terão, ao lado dos Lionels, dos Juan, dos Ángels, um atrevido atacante com apelido tipicamente brasileiro. Até porque ele é brasileiro.
Felipe Rodríguez Gentile, o Felipinho, acaba de ser convocado pelo ex-lateral Diego Placente para defender a seleção argentina sub-17. Talvez ele até nos enfrente no Mundial de novembro, na Indonésia. Nos últimos dias de 2022, a coluna trouxe a história do guri e a disputa que era travada entre Brasil e Argentina para seduzi-lo.
Felipinho é paulista de nascimento, mas argentino de coração (pelo jeito). Os pais são argentinos e vieram para o Brasil fugindo da crise de 2001 em seu país e de viver em outra cultura. Fernando, o pai, era químico. Agustina, a mãe, bióloga. Haviam se conhecido na universidade e decidiram que o Brasil seria um bom lugar para construir a família. Escolheram Vinhedos, cidade vizinha a Campinas, para morar.
Ali, nasceram Mateo, o mais velho, hoje com 19 anos, e Felipe. Em 2008, os Rodríguez Gentile se mudaram para Milão, por questões de trabalho. Voltaram ao Brasil e, em 2020, rumaram para a Inglaterra. Aqui, para apostar no futuro de Felipinho. Como todo bom jogador brasileiro, o guri iniciou no futsal e tem muito do jogo da quadra em seu futebol. Chegou a atuar na base do Palmeiras. A família, no entanto, decidiu que a falta de estrutura e o funil estreito para jovens jogadores no Brasil tornariam o caminho mais pedrogoso.
Na Inglaterra, Felipinho, primeiro, fez um teste no Liverpool. Foram três treinos e tudo fechou com a pandemia. Recomendaram que fosse até o Preston North End, que seguia em atividades. No primeiro treino, o guri fez dois gols. No final de 2022, ele estourou ao estrear no sub-18 com cinco gols.
Neste ano, para vinculá-lo, o Preston usou um expediente do governo, que oferece bolsas de estudo para jovens atletas. Através delas, é permitido aos clubes assinarem com os talentos por dois anos. Felipinho, inclusive, já participou de amistosos com o time principal, que há 50 anos luta para chegar à elite.
Como Liverpool, City, United, Tottenham e Newcastle já monitoram Felipinho, quem sabe o passaporte do clube para a Premier League esteja numa venda milionária logo ali na frente.
Por que a Argentina?
Felipinho declarou seu amor pela Argentina ao postar foto diante da TV, com os jogadores da seleção perfilados antes de um jogo da Copa. Logo depois disso, a Federação Argentina de Futebol entrou em ação, rapidamente. Juan Martín Tassi, olheiro da Afa para descobrir filhos talentosos de argentinos na Europa, entrou em contato com o pai de Felipinho.
Por coincidência, a família estava na Argentina, para as festas de final de ano. Felipinho participou da conversa. Tassi foi amável na conversa e pediu estatísticas, vídeos e material sobre o garoto. Semanas depois, foi vê-lo ao vivo em um jogo da FA Cup Sub-18, contra o Luton. Ao final, conversou olho no olho com Felipinho. Conquistou-o de vez, embora, nem precisasse tanto.
A conquista da Argentina e a onda de euforia liderada por Messi já o haviam conquistado. Em tempo, a Afa estenderá para os Estados Unidos o trabalho de scout para descobrir filhos de argentinos bons de bola. Está em busca de novos Felipinhos.