O River Plate deste tamanho GG que chega ao Beira-Rio nesta terça-feira deve servir de exemplo para boa parte dos grandes clubes brasileiros. São 10 anos de trabalho, de continuidade de gestão e de um norte guiado por conceitos claros: gestão, transparência, ideia definida de jogo, valorização dos ídolos e aposta na formação de novos talentos.
A primeira lição deixada pelo clube argentino está justamente no longo prazo. Assim como seu esfarelamento consumado em junho de 2011, com o rebaixamento, não aconteceu do dia a para a noite, sua reconstrução também requereu tempo. A coluna conta quem são os personagens e como esse River se tornou um dos principais clubes do continente.
Depuração
Trata-se do fio condutor do grupo que comanda o River desde 15 de dezembro de 2013. Rodolfo D'Onofrio, hoje com 73 anos, economista e empresário de sucesso no mercado de seguros, se instalou em Núñez no final de 2013 ao ganhar as eleições com 55% dos votos.
Sucedeu Daniel Passarela, ídolo máximo do clube e da Argentina, que havia levado o River ao seu pior momento na história em sua gestão.
Quatro anos antes, o ex-zagueiro e técnico havia vencido D'Onofrio por apenas seis votos. Semanas depois de assumir, o novo presidente denunciou Passarella à Justiça por fraude em sua gestão catastrófica.
Foi a mensagem para a torcida e todo o clube que acabaria ali a impunidade. Mesmo um grande ídolo não passaria ileso. Passarella foi denunciado por envolvimento em vendas ilegais de ingressos e repasse a barras bravas. O processo se arrasta desde 2016 na Justiça argentina.
Depuração 2
Os primeiros quatro anos de D'Onofrio foram para colocar as contas em ordem. Quando assumiu, a dívida era tão grande que, mesmo vendendo todo seu patrimônio, ainda faltaria para quitá-la. Em 2014, com Ramón Díaz de técnico, conquistou o Clausura. Passada a festa, avisou-o de que teria de vender jogadores em vez de contratar.
Díaz, que havia ficado da gestão Passarella, se foi. D'Onofrio seguiu, na escolha do sucessor, o mantra estabelecido em seu projeto: ideia ofensiva de jogo, aposta na base e nos ídolos. Assim, Gallardo, 36 anos e com única experiência no Nacional, iniciava o ciclo que faria dele um dos maiores nomes da história do River.
Nos dois primeiros anos, seis títulos. Entre eles, o sonhado tri da América. Ao final de oito anos, 14 taças. A maior delas a Final de Madri, em que venceu a Libertadores sobre o Boca.
Filosofia River
Assim como Gallardo, D'Onofrio saiu em dezembro. Deixou seu sucessor. Jorge Brito, 44 anos e vice-presidente nestes oitos anos, assumiu com a missão de fazer este River reconstruído ainda maior. Brito é herdeiro de uma das famílias mais ricas da Argentina. Seu pai, morto em acidente de helicóptero em 2020, foi fundador do banco Macro, do qual hoje Brito é vice-presidente.
Segundo de seis irmãos, o presidente do River toca a empresa de parques eólicos da família e também é um dos vices da Associação de Bancos da Argentina. Ou seja, trata-se de um homem de negócios. Essa mentalidade, assim como na Era D'Onofrio, foi transportada para o Monumental de Núñez. Aliás, agora, Más Monumental, depois da reforma.
Filosofia River 2
Para vencer a eleição com 75% dos votos, Brito apresentou o projeto Filosofia River. Que nada mais é a manutenção de tudo o que já vinha sendo feito há oito anos. Em seu primeiro ano no cargo, lidou com o desafio de substituir Gallardo. Saiu-se muito bem. Martín Demichelis, ex-jogador do River, veio do Bayern B para manter a ideia de apostar forte nos jovens da casa e manter a onda de vitórias.
A segunda etapa da reforma do Monumental, iniciada em março de 2022, elevou a capacidade do estádio para 84,5 mil pessoas, criou ares de arena sem perder o charme e tornou-o o maior da América do Sul. O estádio renovado inflou ainda mais o orgulho da torcida. Desde que foram inauguradas as novas tribunas, o estádio recebeu sempre mais de 80 mil pessoas.
Time forte
Demichelis ganhou o Argentino e, agora, busca o penta da Libertadores. Para isso, o clube foi ao mercado e trouxe nomes como Funes Mori, Lanzini e Colidio e está perto de fechar a volta de Pity Martínez. Colidio, 23 anos, se destacou no Tigres e pertencia à Inter de Milão.
Negociava com o Boca, mas o River pagou 4,6 milhões de euros pelo atacante. Prova de sua força. Para as seis posições da frente, Demichelis contará com 19 alternativas, caso não perca nomes na janela. Porém, o assédio sobre Beltrán e De la Cruz é fortíssimo.