Há um ano, a junção LCP/Serengetti entrou no noticiário esportivo. Por LCP, entende-se Life Capital Partners, uma gestora de recursos brasileira. Serengetti, sua parceira, é o mesmo, só que em versão norte-americana. Os dois fundos estão por trás da proposta de R$ 4,85 bi à Liga Forte Futebol por 20% dos direitos da Liga Unificada. Ou dos R$ 2,34 bi aos 26 clubes do bloco. Por telefone, desde Portugal, a coluna conversou com Carlos Gamboa, sócio da LCP. Confira.
Quem são Serengetti e Life Capital Partners (LCP), donos da oferta de compra de 20% os direitos da Liga Forte Futebol?
A LCP é uma gestora de recursos, asset management, como chama no jargão. Foi fundada por mim e outros dois sócios. Somos dedicados a um nicho de investimentos alternativos. Como você sabe, fundos de ações, renda fixa, mais feijão com arroz, representam o grosso das instituições financeiras. É o que a gente não faz. Nosso DNA, apesar de ser gestora de recursos, é operacional. Minha bagagem, metade da experiência que tenho, vem do mercado financeiro, gestão de private equity (investimento em empresas sem capital aberto com potencial de crescimento a médio e longo prazos, com o intuito de lucrar em futura venda) e gestão financeira. O background do Wilson, meu sócio, é como empreendedor empresarial. Ele é um empresário grande do Paraná, montou negócio próprio que vendeu à ALL, da qual virou acionista controlador e presidente do Conselho. Sou sócio dele em outros negócios: a Ser Energia, de energia renovável, a Bairru, de desenvolvimento urbano e alguns negócios em mineração.
E a Serengetti?
Também é gestora de recursos, mas americana, muito voltada para um tema, um conceito dos norte-americanos, de situações especiais, que também são investimentos alternativos. A diferença deles para nós é que a Serengetti é mais financista, mais a cara de Wall Street. Nós temos mais cara de mão na massa, empreender, tocar o negócio. Somos os gestores de recursos, temos nesse nosso capital que levantamos para essa transação (com a LFF) diversos investidores que se comprometeram com o negócio. Temos uma grande instituição financeira que está conosco, estrangeira, que dá todo o suporte e garantia para ter os fundos necessários não só para a transação da LFF, mas completa, para unificação da Liga.
Qual a razão de apostar na LFF?
Sempre acreditamos ser o melhor modelo de governança, repartição de receita. Estamos muito confiantes de que, fechando essa transação, o que é iminente, buscaremos também os clubes da Libra e promoveremos essa tão sonhada unificação. Sabemos que há diferenças conceituais. Mas tenho certeza de que a racionalidade acabará imperando. Todos vão fazer algum sacrifício. Estou otimista, embora na cobertura da mídia tenha visto tom negativo.
A LCP/Serengetti oferece R$ 2,34 bi para 26 clubes e R$ 4,85 bi para os 40, o que dá quase US$ 1 bi. De onde vem tanta confiança para aportar esse volume todo?
Isso não tem nada a ver com dívida, é capital mesmo. Estamos fazendo um negócio com os clubes, de risco. Somos sócios dos clubes, não teremos remuneração garantida, somos credores. Se o resultado será bom, será para todos nós. Vale o mesmo se for ruim. Estaremos sempre alinhados, temos a liderança dessa condução. Nosso papel deve ser ativo, isso é trabalho de transformação. Vemos um valor monstruoso a ser destravado. Não é só tornar mais eficiente processo de venda, que já existe, mas criar novas linhas de receitas, acessar mercados que hoje não são acessados pelo Brasileirão.
Quem são os investidores por trás da LCP/Serengetti?
Passam desde nós próprios, sócios da Life Capital, que estão comprometendo capital próprio, assim como os sócios da Serengetti. O grosso, de fato, vem de combinação de investidores institucionais, instituição americana do mercado financeiro, cujas demonstrações dela foram validadas pela XP. Além dela, há investidores com cheques menores comprometidos com esse negócio. O meu problema não é dinheiro hoje, tenho acima para fazer os R$ 4,85 bi. Isso é capital, não é dívida.
Qual o papel da XP Investimentos nesse negócio?
Ela é assessora dos clubes da Liga Forte, conduziu o processo em nome deles para atrair investidores, montar pacote de governança e depois buscar a unificação com o outro lado.
O que te fazer acreditar na criação da Liga Unificada?
Primeiro, nunca participamos das reuniões (com a Libra). Nós, e os investidores do nosso lado, fizemos questão de assinar contrato vinculativo com os clubes de não se meter nessa conversa. Ela é deles. eles têm de se acertar. O que escuto deles e da mídia é que houve avanços significativos frente àquele cenário de 12 meses atrás, que motivou a criação do bloco da LFF . Houve aproximação significativa, no sentido da LFF. A Libra fez concessões e aproximações. O que me deixa contente. Prova que o modelo da LFF era o mais equilibrado. Não estamos disputando com o outro lado, mas debatendo ideias. As diferenças, hoje, são poucas, umas três ou quatro, negociais e importantes: a garantia mínima (ao Flamengo e ao Corinthians), a regra de unanimidade, para mudar o modelo, a questão da métrica de audiência.
O atual contrato de TV termina no fim de 2024. Qual o prazo ideal para negociar o próximo acordo?
Você tem, no máximo, para comercializar bem, de estar em campo a partir de setembro deste ano. Aqui será um processo em que se apresentará um produto diferente ao mercado. A Rede Globo já conhece, sabe quanto pode pagar. É nosso objetivo apresentar esse produto a outros mercados, potenciais compradores.
Estamos confortáveis e confiantes de que nossa proposta é mais importante para o Inter
CARLOS GAMBOA
SÓCIO DA LCP
O Inter estabeleceu em seu Conselho uma discussão entre Libra e LFF. Como o senhor vê o Inter no bloco?
De fato, sabemos que há uma mobilização aí, um cabo de guerra entre duas visões diferentes. É respeitável, tem de sempre escutar os dois lados para tomar uma decisão importante. Estamos confortáveis e confiantes de que nossa proposta é mais importante para o Inter. A análise do clube deveria ter centrado nestas questões: quanto ganha na largada ao vender os 20%? O Inter receberá R$ 218 milhões, pelo que me consta. Não tenho de maneira oficial, mas proposta do Mubadala, por 12,5%, é de R$ 99 milhões. Nossa proposta é, por si só, quase 40% acima da Mubadala. É uma conta fácil. Segundo, é quanto que o Inter espera ganhar em cada bloco ao longo do tempo. Estamos convencidos de que, sem a unificação, com dois blocos, o Inter ganhará mais na LFF. Nosso modelo é mais equilibrado.