Aos 57 anos, Rogério Zimmermann enfrenta, pela terceira vez, o desafio de fazer o Xavante se levantar. Foi assim quando comandou o time da Segundona Gaúcha até a Série B, entre 2012 e 2017. Também foi quando voltou em 2018, para evitar a queda para a Terceira Divisão nacional, e repete-se agora, com o processo de reconstrução do clube depois de cair da Série B para a Série D em dois anos.
Na terça-feira (7), o técnico foi comemorar diante da torcida a vaga na terceira fase da Copa do Brasil, depois do 2 a 0 sobre a Ponte Preta transmitido para todo o país. Nesta quinta (9), enquanto se deslocava para Caxias do Sul, no ônibus da delegação, o técnico conversou com GZH. Confira:
Qual a química existente entre o Xavante e o Rogério Zimmermann?
Foi uma volta diferente, o clube vinha de dois rebaixamentos nacionais. Que passaram pela questão técnica, é claro, mas também pela financeira. O Brasil teve problemas, não sou a pessoa mais indicada para falar disso. Houve atrasos salariais, pesaram na reta final da Série C. Quando você começa a montar um time, vêm as dificuldades para fazer contratações, porque o clube não tem mais a Série B como atrativo para oferecer, enfrenta dificuldades financeiras. E não havia ficado nenhum jogador de 2022. Foi desafiador fazer a montagem do grupo.
Qual foi a ideia ao montar esse grupo?
A conversa com a direção foi no sentido de fazermos um time organizado, arrumarmos o vestiário, para que esse novo grupo trouxesse resultado e dinheiro ao clube. Buscamos jogadores que haviam passado pelo Brasil, como Pitol, Chicão, Dumas, Márcio Jonatan. Conheciam o clube, participaram dos acessos até a Série B e sabiam da força xavante. Também busquei nomes que haviam trabalhado comigo em outros clubes, como Amaral e Renan, no Caxias. Os demais, fizemos contatos e usamos amigos em comuns para referendar nosso projeto. Foi uma engenharia grande montar a equipe. O fato de o Gauchão dar visibilidade e termos a Copa do Brasil foram atrativos para convencer os atletas a vir.
Como convencer um atleta a vir depois do histórico recente?
Na conversa com a direção, deixamos claro que esses jogadores trazidos para o Gauchão seriam os responsáveis por fazer a propaganda de que o clube havia melhorado. Depois, para a Série D, quando ligarmos para um atleta, esse vai ligar para alguém que já está aqui em busca de informação. Por isso, disse que tínhamos de dar a melhor condição para o grupo. Eles estavam vindo pelo Brasil, mais pelo que fizemos lá na Série B do que pelo momento. Tínhamos de tratá-los da melhor forma, com boa alimentação, boa moradia, local adequado de treinamento e, o principal, pagá-los em dia.
A comemoração diante da torcida, na minha ótica, não era pela vitória, mas um por uma etapa fundamental do projeto que havia sido atingida. Estou certo?
A passagem de fase não resolverá muito (a vida financeira). Há uma série de dívidas, tem o condomínio de credores. Obviamente, não comemoraria diante da torcida porque ganhamos da Ponte. Fizemos isso algumas vezes na Série B, inclusive lá em Campinas. A comemoração foi pelo contexto.
Qual esse contexto?
Vou te dizer: Na quarta-feira, 1º de março, estávamos no Maranhão, em Barra do Corda, buscando vaga na segunda fase da Copa do Brasil. Saímos de lá às 6h de quinta, de ônibus, até Teresina. Era mais perto ir ao Piauí do que a São Luís para embarcar. Almoçamos, pegamos o avião, descemos em Brasília, esperamos e embarcamos para Porto Alegre. Chegando, pegamos mais três horas de ônibus até Pelotas. Eram 3h da manhã de sexta-feira quando chegamos ao Bento Freitas. Tínhamos levantado às 5h. Ou seja, chegamos em casa depois de 20 horas de viagem. No sábado, buscamos nossa permanência na elite do Gauchão contra o São Luiz. Era nosso primeiro objetivo do ano. Nesse mesmo dia, soubemos que nosso jogo contra a Ponte tinha sido marcado para terça. Tivemos domingo e segunda para preparar o jogo contra a Ponte. Em sete dias, passamos duas fases de Copa do Brasil, garantimos permanência na elite gaúcha e cota de R$ 900 mil. Em resumo, fizemos entrar R$ 4 milhões no caixa. Vibro ou não vibro? Acha que estou vibrando porque ganhei da Ponte?
A missão no Gauchão está cumprida?
Não, é outra realidade. Estamos na Quarta Divisão. Se não subirmos e não tivermos a vaga para 2024, não há nada a fazer. Nossos dois objetivos eram se manter na elite e garantir a Série D em 2024. Ainda precisamos de um ponto. São três vagas. Uma está com o Caxias. Para as outras, estamos nós, o Avenida e o Novo Hamburgo. Quando se iniciar a Série D, em maio, serão 64 times buscando quatro vagas. Se não tivermos a vaga para 2024 assegurada, jogaremos a edição deste ano pressionados. Quando subimos para a Série C em 2015, o Caxias caiu. Ele está há sete anos tentando subir. Vencer o Juventude aumenta nossa chance de jogar a Copa do Brasil de 2024. O que mudará a vida do Brasil é o acesso nacional. Por isso, se ganhares R$ 3 milhões na loteria, tu também vais correr para a arquibancada. Tenho mais de 200 vitórias pelo Brasil, não corri à toa na terça-feira.