Forte Futebol e Libra abriram o caminho para sentar à mesma mesa e buscar um consenso para criar a Liga Unificada. Porém, há pontos divergentes que ainda precisam ser superados. Só depois disso uma ponte entre os dois blocos poderá ser construída.
Nos últimos dias, a coluna conversou com pessoas envolvidas no processo de costura da nova liga. O cenário desde a semana passada, quando a Libra aprovou mudanças em seu modelo de distribuição de receitas, é de um caminho em que os dois movimentos pegam a mesma estrada.
A FF defende 3,5 como diferença entre o que mais recebe e o que menos recebe. A Libra aponta para, depois de uma transição, chegar a 3,4. Outro ponto é a forma como será dividido o bolo. A FF defende a 45% igualitário - 30% performance - 25% apelo comercial.
A Libra, com a alteração no estatuto, adota essa mesma divisão. Porém, defende que ela seja adotada depois de cinco ano ou a partir do atingimento de receita de R$ 4 bilhões com a venda dos direitos. Há perspectiva de que as comissões nomes se encontrem ainda neste mês.
Até agora, no entanto, nada foi agendado. A seguir, veja quais são os pontos que ainda causam discórdia e que estarão à mesa quando ocorrer um encontro entre os dois blocos. Aliás, as conversas estão suspensas desde o ano passado.
Tabelas
Fontes ligadas ao Forte Futebol mostraram-se reticentes ainda em relação às mudanças anunciadas pela Libra na última semana. Esperam um documento mais detalhado e que mostre a forma como se chegará aos números anunciados, de diferença de 3,4 vezes entre quem mais recebe e menos recebe e na divisão das receitas em 45% igualitário - 30% performance -25% apelo comercial.
Há ainda um processo de transição de cinco anos do modelo original da Libra para o novo, aprovado na última semana. Mais do que isso, técnicos do FF cobram tabelas mais detalhadas e claras. O bloco já publicou a fatia, em percentual, que cada um dos 20 clubes receberia pela performance e pelo apelo comercial ao final do campeonato.
PPV e mínimo
Há, no contrato atual, um mínimo garantido para alguns clubes na receita de PPV. Esse número é o que mostra, de forma mais clara, o abismo existente hoje entre Flamengo e Corinthians e os demais clubes. Mesmo aqueles como Grêmio e Inter, de grande porte, mas de apelo mais regional.
A Forte Futebol defenda que esse mínimo garantido caia e que os números sustentados por ele hoje não sejam tomados como referência para a distribuição a partir de um novo contrato, em 2025. Essa distância, grande hoje, só aumenta, conforme os técnicos. Isso porque as vendas de PPV apresentam uma queda, enquanto a garantia para os clubes é corrigida pela inflação.
Pegando o Flamengo como exemplo e comprando com Grêmio, que também tem mínimo garantido, mas menor, percebe-se o abismo. Em 2022, a diferença entre os dois clubes foi de R$ 117 milhões. O Flamengo ganhou 261% a mais. A projeção, para 2024, é de diferença de R$ 140 milhões — ou 300%).
A relação com o Inter é ainda mais impactante: em 2022, foi de R$ 143 milhões (797%), para 2024 projeta-se R$ 168 milhões (920%). A Forte Futebol defende que, pelo modelo adotado por ela, essas diferenças seriam de 18%, no caso do Grêmio, e 69%, no caso do Inter.
Unanimidade
Um dos pontos mais sensíveis na relação dos dois grupos é a quantidade de votos para mudanças estatutárias numa futura Liga Unificada. A Libra, em sua reunião da semana passada, adiou para um próximo encontro o debate sobre a necessidade de unanimidade para qualquer mudança nas regras.
A Forte Futebol é totalmente contrária a essa norma. Alega que Corinthians e Flamengo, hoje aproximados por serem donos das maiores fatias de receitas, teriam com seu voto o poder de vetar qualquer mudança proposta pelos demais clubes. Também refuta a ideia de um quociente mínimo de 85% dos votos. O que abriria, segundo a FF, a possibilidade de um grupo de seis clubes nortear as mudanças.
Outras séries
Em seu documento, a Libra destinou que 15% da receita obtida com a Liga será destinada aos clubes da Série B. A Forte Futebol defende um percentual maior, de 20%, que seriam divididos entre a Série B, 18%, e a Série C, 2%. A FF sustenta que a reestruturação e o fortalecimento das divisões menores impactarão no nível da Série A.
Aqui, está uma diferença na origem dos dois movimentos. Enquanto a Libra começou a ser formada por Flamengo e pelos cinco paulistas da Série A, a Forte Futebol tem seu ponto de partida na união de clubes do Nordeste e da Série B. Hoje, dos 26 clubes do bloco, seis estão na Série C, 11 na B e nove na elite.