O Inter vota na segunda-feira (16) o projeto das debêntures, gestado em todo o 2024 e visto pela gestão do clube como uma saída para enfrentar as dificuldades econômicas e, principalmente, taxas de juros da dívida que comem à mesa com o clube diariamente. Em resumo, o Inter trocará no mercado R$ 200 milhões em dívidas de curto prazo e juros anuais de 12% + CDI por R$ 200 milhões de dívidas com prazo alongado de cinco anos, sendo um de carência, com juros anuais de 6% + CDI.
O clube, assim, busca um respiro e busca tempo para ganhar fôlego. Mesmo que os números tenham o objetivo de tratar da delicada saúde financeira colorada, o debate interno é intenso. Como são todos os debates que acontecem no Conselho Deliberativo do Beira-Rio.
Há, evidentemente, a efervescência política do clube, mas há também a questão de o Estádio Beira-Rio estar entre as garantias listadas aos investidores. O clube colocou como garantia primeira a receita de quadro social, como segunda a bilheteria, como terceira, alguma receita de publicidade. Só depois, caso o valor dessas rubricas não atingisse o pagamento mensal aos investidores, é que viria o Beira-Rio. O estádio, na verdade, se parasse nas mãos desses investidores, seria um ativo imobilizado, já que o direito de superfície está preso, por mais 10 anos, ao contrato com a Brio.
Os conselheiros têm o dever de debater e questionar qualquer projeto que envolva uma propriedade do clube como garantia. Porém, vejo que um outro debate, tão necessário como, não está acontecendo: qual o desenho feito pelo clube para fazer com que esses R$ 200 milhões não sejam apenas um paliativo nessa busca pela recuperação econômica do clube?
A gestão precisa apresentar os passos seguintes à entrada dessa receita. Que seriam as medidas a serem tomadas para que o projeto das debêntures não sejam apenas um ato de empurrar para a frente o problema. Percebo que parte dos conselheiros está centrado apenas no barulho causado pela inclusão do Beira-Rio em vez de tentar entender quais os procedimentos e as medidas que serão tomados para evitar que o clube volte à UTI. É preciso questionar quais são as novas receitas buscadas, onde serão feitos cortes de gastos, quais os ajustes possíveis de fazer no dia a dia sem comprometer o produto final, que é um time competitivo. É preciso saber o que pensa a gestão para impedir que, passado o ano de carência, o pagamento aos investidores não seja apenas mais uma das dívidas que sufocam um Inter que vive assombrado pelas dificuldades financeiras. O Beira-Rio, como quarta garantia, está longe de ser o problema central nesse debate.