Pelé se despede deste mundo nesta terça. O mundo seguirá conectado a Pelé. É impossível se desplugar dele. Estamos falando, afinal, de alguém que mudou o futebol. Que transformou o jogo e o fez da forma como o consumimos hoje. Que ressignificou o esporte mais popular do planeta e deu cara e cor a ele.
Pelé mudou o futebol e foi a sua primeira estrela negra de alcance global. Sabe o tamanho disso? Sabe o que representou termos no trono de Rei uma figura negra? Certa vez, Pelé foi perguntado, aos 18 anos, sobre o que achava de ele ser uma figura representativa contra o preconceito racial — e estamos falando de um tempo que esse debate ainda nem estava na pauta. A resposta foi de quem sabia do seu tamanho e da sua força: "Eu não tiro a minha pele para jogar".
Tínhamos grandes figuras negras no esporte. Jesse Owens, o corredor negro respondeu com quatro medalhas de ouro em Berlim 1936 ao ideal nazista de supremacia branca com uma raça ariana pura. Aliás, respondeu também aos próprios americanos, que viviam sob leis segregacionistas.
Tivemos depois Muhammad Ali, talvez a grande expressão negra do esporte fora do futebol, e Tommie Smith e John Carlos. Esses dois, possivelmente, você não identifique de primeira. Mas ligará os nomes às pessoas: são os dois corredores que, ao ganharem ouro e bronze nos 200m rasos na Olimpíada de 1988, ouviram o hino com o punho alto e cerrado, símbolo do movimento dos Panteras Negras.
Mas não tínhamos, no futebol, uma figura negra de alcance mundial. Pelé, aos 17 anos, começou a se tornar essa figura. Começou aos 17 anos e nunca mais parou. O mundo passou a reverenciar uma figura que era a representação do sucesso, da alegria e, principalmente, da africanidade, de um continente que ainda hoje é esquecido.
Pelé construiu isso com seu talento. Único jogador campeão do mundo aos 17 anos. Único jogador a ser tricampeão mundial. Único jogador a marcar mais de mil gols (1.091, para ser exato) por um único clube, o Santos, dos seus amores, pelo qual defendeu por 19 temporadas e com o qual conquistou 26 títulos, entre eles seis Brasileiros, duas Libertadores e dois Mundiais. Amor igual somente pela Seleção, da qual é o maior artilheiro, mesmo tendo parado de atuar há quase 50 anos.
Por tudo isso, Pelé se despede da gente nesta terça-feira. Mas nós nunca nos despediremos dele. Pela magia do que fez em campo e pelo legado que nos deixa fora dele. Vida eterna ao Rei.