São 198 minutos de Brasil aqui em Doha. Mais de três horas e nenhum chute a gol em Alisson. Sim, a Seleção mostra uma fortaleza defensiva que já fez história nessas duas partidas. É a segunda na história das Copas, desde 1966, a passar pelas duas primeiras rodadas sem ser ameaçada. A outra foi a França, campeã do mundo em 1987. Naquela Copa, Barthez reluziu sua calva cabeça sem sequer ser ameaçado. Tal qual fez Alisson agora, de bigode na estreia e sem ele contra os suíços.
Aliás, a discrição é uma marca de Alisson. Embora, seja difícil ser discreto com seu 1m92cm e pinta de modelo italiano. Mas ele mesmo se define como um sujeito de perfil baixo, que faz esforço para evitar os holofotes. Por isso, chamou a atenção o bigodão estilo mexicano com o qual apareceu na estreia. Na zona mista, ele se apressou em explicar e mostrou seu lado engajado, de quem sabe usar a voz e o lugar de fala. O bigode fazia parte de uma campanha organizada pela Gillette para chamar atenção do homens para o Novembro Azul, que prega a prevenção contra o câncer de próstata.
— Eu sou discreto sempre, mas essa é uma causa importante, para alertar os homens de que precisam cuidar da saúde. Quem cuida da sua saúde, cuida da sua família — alertou.
Alisson, é verdade, se privilegia de uma Seleção em que todos, sem a bola, marcam como volantes. Raphinha, por exemplo, só ficou atrás de Casemiro, Alex Sandro e Marquinhos nas ações defensivas. Teve 11 ações. Richarlison, o centroavante, teve cinco. Vini Júnior, quatro. Contra a Suíça, Raphinha, com cinco, e Vini Jr., com quatro, só ficaram atrás dos jogadores da linha de defesa e dos volantes. Todo esse processo coletivo facilita o trabalho de Alisson, mas também elevam o desafio de manter a concentração no nível máximo.
— O trabalho é de todos, não importa a função ou a posição no campo, todos se dedicaram muito para marcar. Sabemos a qualidade que temos com a bola, fazemos a diferença. Mas soubemos trabalhar a duas fases do jogo, a defensiva e a ofensiva — observou o goleiro.
Com a experiência de três Copas e de quem foi tetracampão, Taffarel funciona, neste momento, como uma espécie de treinador de goleiros e terapeuta de Alisson. Taffarel é um sujeito extrovertido e isso faz com que suas observações tenham sempre um misto de graça com objetividade. Ele compara a vida dos goleiros da Seleção à sua na campanha do Tetra.
— Em 1994, participei muito pouco. Tive alguns momentos, fiz algumas defesas. Tínhamos aquela força na marcação. Sei que o goleiro fica chateado, quer participar, vem para a Copa mostrar seu trabalho, para o trienador e para quem está de fora. Mas é melhor que não participe — brinca Taffarel.
O treinador de goleiros revela que Alisson chegou ao Catar no auge. Preparou-se mentalmente e fisicamente. No aspecto físico, Alisson se dedicou neste semestre a manter a forma e também o peso.
— É um goleiro para o qual precisa falar pouco ou instruir. Ele está preparado técnica e fisicamente para essa Copa. Chegou muito bem fisicamente, sempre teve dificuldade na questão de manter-se no peso. Ele se propôs a fazer um sacrifício grande para fazer uma boa Copa. Está focado e preparado — disse Taffarel.