Nesta quarta-feira (2), os guris do Inter embarcam para Quito. No domingo (6), contra a LDU, iniciam a busca pela Libertadores Sub-20. A primeira fase é rápida. Na outra quarta, será contra o Millonarios e, na sexta, fecha a primeira fase contra o Peñarol. O grupo será o que caiu na Copa São Paulo para o Palmeiras, nas oitavas de final. Porém, mais enxuto, com 20 nomes.
Por telefone, a coluna conversou com o técnico João Miguel, 48 anos, ele próprio uma cria da base do Inter. Entre 1985, aos 12 anos, e 1995, foi zagueiro do Inter. Fez parte de uma geração que tinha Argel, Anderson, César Prates. Teve como técnicos nos suplementares do Beira-Rio Celso Roth e os craques Bráulio e Dorinho. Agora, cabe a ele a missão de moldar uma geração que promete. Confira nosso papo:
O grupo para a Libertadores será o mesmo da campanha na Copa SP?
Na Copa SP, estávamos com 30 jogadores. A lista para a Libertadores permitirá apenas 20. Ou seja, há vários nomes que não estarão na viagem para o Equador.
Foi difícil cortar 10 nomes?
A Copa SP serviu um pouco de base. Estamos reformulando o grupo, tivemos quatro jogadores subiram para o profissional (Thauan Lara, Tiago Barbosa, Matheus Dias e Nicolas), outros que ascenderam do sub-17. É preciso ter cuidado com esses que estão chegando, adaptá-los para a exigência do jogo na sub-20. A amostragem da Copinha, os treinos que se sucederam a ela e o ano que fizeram na sub-17, o desenvolvimento diário, as análises da direção e da comissão técnica, tudo isso foi levado em conta.
Na Copa SP, mesmo sendo sub-21, o Inter foi com um grupo quase sub-19. A ideia é repetir isso na Libertadores, que é sub-20?
Na Copa SP, poderia ainda ter jogadores 2001, mas não levamos nenhum. Nosso grupo era com atletas 2002 a 2004. Tivemos ainda um 2005. Fomos com um grupo bem novo. A idade limite na Libertadores é 2002 e seguiremos planejamento parecido, com atletas nascidos entre 2002 e 2005. É um grupo muito novo, temos acelerado o processo de desenvolvimento deles.
Essa tem sido uma estratégia do Inter e de muitos clubes, de antecipar o processo de formação desses garotos. Como se faz isso?
Os processos têm sido mais rápidos, sim. Mas nunca sem se esquecer de que é preciso esperar a maturação do atleta, o desenvolvimento dele. O jogador, na base, quase nunca é igual ao outro. Às vezes, o atleta inicia o ano de uma forma, em junho está diferente e, em dezembro, com outro desenvolvimento, que pode ser bom ou abaixo daquela projeção que fizemos lá atrás. A ideia é acelerar maturação, mas não a experiência. Vamos respeitar sempre a individualidade, para não queimar etapas e prejudicar aquele atleta que pode ter desenvolvimento tardio.
A altitude de Quito é um fator que preocupa?
Quando iniciamos o planejamento da Libertadores, trabalhamos muito em cima da sede. Sabíamos dos efeitos da altitude de 2,8 mil metros, da mudança na velocidade da bola. Nosso atleta ainda não tem essa experiência na altitude. Com a fisiologia e a preparação física, montamos um projeto que nos ajudasse a se antecipar a essa situação. Os treinos ganharam em volume, intensidade e tempo. O trabalho na parte física foi dando ênfase para atender a essa exigência que tem a altitude.
O que foi possível saber dos adversários?
Temos a LDU, depois o Millonarios e o Peñarol. Buscamos jogos anteriores, informações sobre as comissões técnicas, os jogadores que poderão estar na competição. Fizemos um estudo profundo, principalmente, sobre a LDU, que é o time local, está ambientado e, por ser o jogo de estreia, é o mais importante. Talvez seja o mais difícil. A LDU sempre adota um jogo forte, principalmente no início das partidas, tem tradição em formar bons jogadores. Vemos esse jogo de alta dificuldade.
E o Millonarios e Peñarol, o que esperar?
Conhecemos os colombianos. São de boa técnica, têm jogadores altos. Vamos preparados para uma partida de intensidade alta, por ser um time muito físico. Do Peñarol, conhecemos o futebol uruguaio, são nossos vizinhos, sabemos bem como jogam. Têm aquele perfil de quem nunca se dá por vencido, aguerrido. Preparamos muito bem o grupo para esses três primeiros jogos.
Há um debate sobre base, de que ela serve para formar e não ganhar títulos. Mas, numa competição continental, não há como negar que vencer confere status ao clube, ao jogador e à comissão técnica.
Temos uma dinâmica de trabalho muito grande em função do atleta. Formamos o indivíduo dentro do clube, para que ele suba e faça parte do profissional. Mas não podemos nos esquecer que ele está numa profissão em que vencer é uma prioridade. Não podemos mascarar isso, formar um atleta sem tocar no assunto das vitórias, que serão exigência na carreira dele. Vamos para a Libertadores porque, em 2021, conquistamos títulos. A todo o momento é colocado isso para o atleta, para que busque esse espírito vencedor. Durante a semana, formamos os garotos dentro do princípio de valores, não de jogo, mas como pessoa. Mas com ele sabendo que a profissão dele é ganhar todos os dias. Conseguimos formar o atleta com esse espírito, para, quando surgir a dificuldade do campo ou o desafio de uma Libertadores, que ele esteja pronto. Acredito que, com essas experiências que estão tendo na base, quando vivenciadas no profissional, não serão estranhas.