No último domingo, os torcedores foram surpreendidos por uma atuação de gala de Atílio Genaro Ancheta, o zagueiro que, na Copa de 1970, marcou Pelé com apenas 21 anos e, depois disso, desembarcaria para jogar por uma década no Grêmio. Ancheta, é claro, não joga mais. Seu brilho, porém, está nos palcos, como cantor.
Intérprete de boleros, ele faz shows pelo Estado. No domingo, porém, venceu com sucesso na primeira etapa do The Voice+, programa da Rede Globo em que talentos da terceira idade soltam a voz. De volta a Porto Alegre, depois de morar dois anos em Santo Antônio da Patrulha, e curtindo a Aurora, neta recém-chegada, o ex-zagueiro e cantor contou à coluna sobre o sucesso no The Voice+.
Como surgiu essa ideia de cantar no The Voice+?
Já vem do ano passado. Meu filho, que mora em São Paulo, me disse: "Pai, tenho vontade de te inscrever no The Voice". Disse para ele que, por enquanto, não queria. Passou o tempo, e ele voltou: "Pai, te apronta, eu te inscrevi. Agora, te vira, vamos trabalhar." Aprontamos duas músicas, que exigiam na inscrição, e mandamos. Estava morando em Santo Antônio da Patrulha, estava tranquilo, tinha espaço para gravar. Mais tarde, veio a resposta positiva. Foi muito bom, me trataram muito bem, o suporte técnico foi maravilhoso.
A música que você cantou é tema de abertura da série Narcos, uma música atual. Como foi o processo de escolha?
Faz um tempo em que canto todo o tipo de música, em casa, nas festas de família, em apresentações. Uma sobrinha minha me indicou essa música, dizendo que era sucesso e de uma série muito boa. Decidi colocar no meu repertório. Isso antes mesmo de surgir a ideia do The Voice. É uma música que pega variados tipos de público.
O fato de ter sido um jogador de Copa do Mundo, de clube grande como o Grêmio e ter jogado sob alta pressão, te ajudou na hora de encarar a prova?
Já passei por muitos tipos de público. Quando você canta, pode acontecer de tudo. Ensaiei bastante, modifiquei um pouco do jeito de interpretar, para não ficar igual ao Rodrigo Amarante. Eu queria cantar do meu jeito. Tenho enfrentado plateias com bons públicos e me senti muito bem no The Voice+. Vi que o público gostou bastante, isso ajuda.
Você segue na disputa. Mas me conta como foi a repercussão dessa primeira etapa?
Puxa vida, mais do que jogando futebol. Incrível, as pessoas ficaram muito felizes. Os amigos me ligaram reclamando, que não havia avisado. Mas é que tudo exigia sigilo total e foi muito rápido. Na rua, quando estou caminhando, sempre vem alguém comentar. Foi maravilhoso.
Você foi apresentado como ex-jogador. Como esse resgate bateu em você?
Fizeram uma apresentação, foi muito emocionante. Quando comecei a cantar, estava naquela parte "soy el fuego que arde en tu piel", cantando de olhos fechados. Aí, ouvi ao fundo aquele barulho forte. Abri os olhos e todos os quatro "técnicos" (Toni Garrido, Ludmilla, Fafá de Belém e Carlinhos Brown) haviam se virado. Continuei cantando, normalmente, né? (risos). As palavras deles foram lindas, deram muita confiança. Conhecia todos os cantores ali, mas a Fafá, eu conhecia havia mais tempo, as canções dela são românticas como as que canto. Por isso, a escolhi. Mas qualquer um deles que escolhesse iria me ajudar demais na minha carreira.
Você já cantava nos tempos de jogador?
Eu sempre cantei. Sempre gostei muito. Nos ônibus, quando viajávamos, os jogadores cantavam samba. Mas, como eles sabiam que eu cantava bolero, pediam para trazer algo diferente. Aí, eles acompanhavam cantando junto ou batendo palmas. A música sempre foi algo que me inspirou. Agora explodiu (risos).
O Falcão, seu contemporâneo nos tempos de jogador, costuma dizer que o jogador morre duas vezes, uma quando se aposenta e outra quando se vai. Isso por sair dos holofotes. Só que você preencheu o vazio da bola com a música. Como funciona isso na sua cabeça?
Sempre procuro alguma coisa para me sentir bem. A vida é muito boa, tem coisas boas, que dá para agarrar e te fazem se sentir bem. Interpretar uma música é maravilhoso. Ensaiando, eu choro muito. Vejo as letras e choro. Não tenho vergonha disso. Minha mulher, quando vê as lágrimas, já me pergunta: "Qual música você achou agora". Se a música é boa, tem qualidade, acabo me sentindo dentro dela.
O homem que marcou Pelé aos 21 anos na Copa de 1970 ainda acompanha o futebol?
Acompanho um pouco. Mas já não sou tão fanático como antes. Sempre que faço algo, me meto dentro com tudo. É agora assim com a música. Por isso, deixei o futebol um pouco de lado. Sempre foi interessante para mim, por isso, ainda assisto a alguns jogos, de clubes e da Seleção. Acompanho à distância o Uruguai também.