Na quarta-feira, se inicia a 102ª edição do Gauchão. Neste ano, reconfigurado por horários novos de jogos e por um equilíbrio técnico que não se via havia alguns anos. Muito pelo contexto atual de Grêmio e Inter. O primeiro ainda tira a poeira depois do tombo para a Série B, que capitalizará suas atenções em 2022. O segundo por estar em processo de transformação, com a chegada de um novo técnico estrangeiro e a mudança de fotografia que tenta implantar.
Tudo isso abre margem para que o Interior, com o Juventude na elite, se alvoroce. A coluna foi conversar com o presidente da FGF, Luciano Hocsman, para tratar deste Gauchão que se avizinha e de projetos para o futebol estadual. Confira.
Qual expectativa para o Gauchão, que tem novo contrato de TV e perspectiva de equilíbrio?
Quanto ao contrato de TV, foi uma negociação muita mais complexa do que em anos anteriores. Houve muito debate, mas muita situação de compasso de espera. O mercado de São Paulo baliza. O que demorou foi essa situação e, depois, montarmos com os clubes e a proponente um modelo de negócio novo. Antes, as empresas vinham e diziam: “Quero comprar por X este ano”. Neste ano, as propostas não tinham mínimo garantido, mas um modelo de negócio, com plano comercial longo, em que se projetava a receita. Em razão do tempo para começar a competição e finalizar esse acordo, lutamos muito para que este ano fosse de transição, com mínimo garantido aos clubes. Eles precisam, principalmente os do Interior, um número pré-estabelecido para fazer seus orçamentos.
Ou seja, os clubes partem de uma base de receita de TV garantida?
Garantimos esse mínimo, muito por esforço da FGF e da empresa parceira, que acabou comprando a ideia. São novos tempos, é um projeto completamente diferente em termos de TV aberta, com o futebol daqui feito para o público e o mercado daqui. A expectativa é muito boa de fazermos do Gauchão um case neste ano, para que, em 2023, obtenhamos resultados financeiros ainda melhores.
No aspecto técnico, o Gauchão sai um pouco mais do eixo Região Metropolitana-Serra. O quanto isso é importante?
Diferentemente de outros anos, em que as distâncias eram menores, com as voltas de Bagé e Frederico Westphalen, ampliamos o espectro de atingimento do campeonato. É importante levar o Gauchão para essas regiões. Tanto União quanto Guarany, pelas distâncias a que estavam da elite, podem servir de modelo, com a comunidade local e a região em que estão abraçando-os. Sabemos da realidade no Estado, mas o êxito de União e Guarany pode ser compartilhado. É importante a região abraçar o clube, apoiar, se associar. Quando um time de fora do eixo Região Metropolitana-Serra chega, tem possibilidade de mostrar para outras comunidades como é importante ter o futebol ali.
O fato de o Inter estar se remontando e o Grêmio vivendo o pós-rebaixamento deixa o Gauchão mais equilibrado?
Levando em conta os resultados do Brasileirão, o ano de 2021 não foi um ano positivo, diferente de 2020, com o Juventude subindo e Inter e Grêmio disputando títulos do Brasileirão e da Copa do Brasil. Neste último ano, o Brasil caiu para a Série C, o Grêmio caiu para a B e o Inter e o Ju fizeram campanhas não muito boas. Esse cenário causou prejuízos, tirou vagas extras do futebol gaúcho na Copa do Brasil. Em compensação, esse contexto esquenta o Gauchão 2022. Todos estarão com mesmo calendário, excetuando os quatro da Copa do Brasil. Será um Gauchão bem disputado, bem pegado, um dos mais difíceis dos últimos tempos.
Quantas vagas o Estado perdeu na Copa do Brasil?
Aparentemente, duas. Como funciona: temos vagas por ranking e pelo Estadual. O campeão e o vice têm vaga. Como normalmente esses disputavam competições da Conmebol, entravam por ali ou pelo ranking. Sem isso em 2022, ficamos com nossas cinco vagas: Grêmio e Inter, pelo Gauchão, o Juventude e o Brasil, pelo ranking, e o Glória, pela Copa FGF.
A pandemia impactou o mercado do Interior. A Divisão de Acesso, por exemplo, parou por um ano e meio. Como os clubes estão reagindo?
As dificuldades da pandemia deram um choque de gestão nos clubes do Interior. Nossos clubes estão com dificuldades, mas ao mesmo tempo não ficou quase nada de dívida. Os dirigentes se adequaram à realidade, entendendo a necessidade de observar seus orçamentos. Vejo que conseguiram se moldar à realidade e entender o quão importante é não gastar mais do que arrecadam.
O quanto a pandemia atrapalhou os projetos de modernização do futebol gaúcho?
Conversamos muito aqui sobre isso, e sempre repito que não gosto de ficar remoendo. Tivemos um rio tranquilo do dia 7 de janeiro de 2020 até 16 de março de 2020. Esse foi o período que nossa gestão conseguiu cumprir sem percalços até que veio a pandemia. Muitas coisas que imaginávamos fazer foram atrapalhadas, porque tivemos de focar em outra situação. A questão da formação de dirigentes é algo que me seduz muito e tem extrema importância, por exemplo. Vemos movimentos de mudança de pensamento no Interior. Conseguimos dar um pequeno passo, a partir do meio do ano de 2021, quando lançamos o projeto FGF Conecta, uma plataforma de cursos, lives e palestras focadas na questão da formação e troca de conhecimento.
E a formação de atletas: há algum projeto que trabalhe o estímulo às categorias de base?
Sim, através do projeto das escolinhas, de levar para o Interior. Estamos atrás da captação de recursos e levaremos pelo Estado. Nesse projeto, estamos em vias de adotar uma ou duas quadras no trecho 2 da Orla do Guaíba, não só para manutenção, mas dar a largada no projeto de treinamento e escolinhas. A ideia é fazer uma escolinha itinerante, em conjunto com prefeituras. Teríamos uma ou duas vans em que iriam professores, o material para montar o campo e preparar os professores locais, dividindo metodologia. No projeto, deixaríamos depois dessas aulas uma cartilha a ser seguida pelos professores, com os métodos de treinamento, e faríamos visitas para atualizações e trocas de ideias. A meta é que surjam meninos e meninas nessas escolinhas para abastecer os clubes das cidades ou regiões.