Dois estreantes na Libertadores de 2022 mostram que os conglomerados mundiais de futebol chegaram à América do Sul com força para redesenhar o mapa. O RB Bragantino e o Montevidéo City Torque, em três temporadas, emergiram do ambiente doméstico para figurar no continente. Os dois, em 2021, já haviam participado da Copa Sul-Americana.
Os uruguaios ficaram na segunda fase, a de grupos. Acabaram em segundo lugar em um grupo que teve como campeão o Independiente. Mas ficaram à frente do Bahia, por exemplo, a quem venceram por 4 a 2 na Arena Fonte Nova, na última rodada. O RB Bragantino, como se sabe, chegou à final e acabou perdendo para o Athletico-PR, no Estádio Centenário.
Mas o ponto aqui é que tanto a Red Bull quanto o City Group começam a ver seus projetos na América do Sul decolarem em curtíssimo espaço de tempo. Confira.
O CITY TORQUE
O Torque já nasceu clube-empresa. Foi fundado por empresários uruguaios em 2007, como Club Atlético Torque. A ideia era formar jogadores e vender. Um deles foi Jonatan Álvez, de passagem pelo Inter. Em abril de 2017, o City Group, depois de analisar o mercado uruguaio, adquiriu o clube. Sete meses depois, o Torque ganhou o título da Segunda Divisão e subiu pela primeira vez à elite. Ficou uma temporada entre os grandes. Mas em 2019 voltou a conquistar o acesso e retornou à elite para ficar de vez.
No começo de 2020, o Torque mudou escudo e nome, alinhando-se ao dos outros nove clubes do City Group. Na metade do ano, o CT que concentra os times masculino e feminino e todas as categorias de base foi inaugurado em Montevidéu.
São cinco campos, sendo um deles sintético e um prédio que concentra a parte administrativa, academia, vestiários, centro médico e refeitório. Tudo numa área de 95 mil metros quadrados en Ciudad la Costa, em Canelones, muito próximo de Montevidéu — o aeroporto de Carrasco está a cinco minutos de carro.
No ano passado, o Torque acabou os dois campeonatos uruguaios, o Apertura e o Clausura, em terceiro. Garantiu vaga na semifinal para disputar o título nacional, mas caiu nos pênaltis. Assim, ficou só com vaga na Sul-Americana. Neste ano, a vaga não escapou.
O clube já havia dado demonstração de sua força com ações no mercado. Em novembro do ano passado, comprou o meia Santiago Rodríguez do gigante Nacional. O guri era uma promessa do clube. Seis meses depois, ele arrumou as malas e tomou o caminho do NY City, o segundo clube na hierarquia do City Group. Em 2019, o atacante Valentín Castellanos, criado na base, já havia se mudado para Nova York.
O plano dos árabes com o Torque é justamente esse, de formar talentos em um país fértil de pés de obras, e estar mais próximo dos mercados vizinhos. A Libertadores, mais do que nunca, permitirá esse acompanhamento.
RB BRAGANTINO
O projeto de ascensão da Red Bul com o Bragantino aqui no Brasil foi ainda mais rápido do que o do City no Uruguai. Em abril de 2019, a empresa austríaca assumiu o departamento de futebol do clube paulista que, havia alguns anos, jogava pela sobrevivência na Série B e no Paulistão.
Na largada, foram investidos R$ 45 milhões para melhorar estrutura do Estádio Nabi Abi Chedid e contratar jogadores. A Red Bull já era dona do RB Brasil, da primeira divisão paulista. O que ela fez foi só dar uma acelerada no seu projeto, entrando em um clube já na Série B nacional. Hoje, o RB Brasil funciona como espécie de filial. Sete meses depois de assumir o Bragantino, a Red Bull comemorou o acesso à elite.
O projeto para 2020 era seguir na elite e ser competitivo no Estadual. Foi além. No Paulistão, caiu nas quartas de final para o Corinthians, que viria a ser campeão. No Brasileirão, com cerca de R$ 120 milhões de gastos com futebol, acabou em 10º e garantiu vaga na Sul-Americana. O plano de negócio foi muito claro: compra de jogadores jovens, como o goleiro Cleiton e o atacante Arthur, e garimpo de garotos sem espaço em grandes clubes, como Helinho, do São Paulo, e Luan Cândido, do Palmeiras. Montou um time com idade média abaixo dos 22 anos e fez um segundo turno de alto desempenho.
Para 2021, o projeto começou a colher frutos. Claudinho chegou à Seleção e foi vendido ao Zenit, por 15 milhões de euros. Houve fôlego para comprar, por exemplo, Praxedes, do Inter, por R$ 36 milhões, e prepará-lo para ocupar a vaga de Claudinho. Só neste ano, o RB Bragantino ainda teve convocados para a Seleção o atacante Arthur e o zagueiro Léo Ortiz. A chegada à final da Sul-Americana foi saudada como mais um passo na ascensão do clube. Mesmo com a dor da derrota, o objetivo foi cumprido.
O ano de 2020 também foi o do começo da obra do CT em Atibaia, com oito campos, alojamento para todas categorias, do sub-15 profissional e um projeto criado pelo mesmo arquiteto que desenhou os CTs do RB Salzburg e RB Leipzig, os irmãos mais velhos do Bragantino — a empresa ainda tem o New York Red Bulls e o RB Ghana. O plano é inaugurar o CT no final de 2023. A partir daí, o plano entra em novo estágio, que é o de formar jovens jogadores em casa, em vez de comprar de grandes clubes.