No domingo (15), o Plaza Colônia conquistou o Apertura e comemorou pela segunda vez um título uruguaio em 104 anos. Talvez passe batido para você essa notícia. Mas um breve mergulho no contexto do futebol dos vizinhos é suficiente para entender a dimensão disso.
O Campeonato Uruguaio é quase um Metropolitano. São 13 clubes de Montevidéu e três do Interior. Antes do Plaza, em 2015, apenas o Rocha havia tirado o título de um clube da Montevidéu. Com a conquista do Apertura, o Plaza se garantiu na decisão do título da temporada, contra o campeão do Clausura.
Para nós aqui, a conquista do Plaza tem algumas conexões. O atual time tinha como uma das estrelas o meia Cebolla Rodríguez, aquele mesmo de passagem curta pelo Grêmio. Curta e pontuada por lesões. Mais, o Plaza foi o primeiro clube da carreira de Diego Aguirre, em 2002. Naquela ocasião, o clube estreava na elite uruguaia, apenas dois anos depois de se profissionalizar e deixar de jogar a liga amadora de Colônia.
Uma outra ligação seria Diego Lugano, zagueiro que fez história pelo São Paulo e pela seleção. Foi no Plaza que começou a sua carreira. O atual técnico do time, Eduardo Espinel, foi companheiro de zaga de Lugano sob o comando de Aguirre. Uma década depois, Espinel assumiu como técnico por indicação do velho amigo de zaga.
Na época, o Plaza lutava para escapar da queda à terceira divisão — o que, no Uruguai, significa voltar ao amadorismo. Os dirigentes procuraram Lugano em busca de uma saída, e ele indicou Espinel, que já aposentado do futebol se sustentava como marceneiro. Deu certo. Dois anos depois, Espinel levou o clube ao primeiro título uruguaio, em 2015. Ele saiu de Colônia, rodou e voltou em janeiro, com o clube ameaçado de rebaixamento. Oito meses depois, comemorou o bi.
Colônia de Sacramento é um daqueles lugares que você não pode deixar de conhecer. A cidade foi alvo de disputas entre as coroas espanhola e portuguesa nos séculos 17 e 18. Por isso, guarda em suas ruas de pedra a influência dessas duas culturas. Há o casario com telhados de duas ou quatro águas, típico dos lusitanos, e aquele de linhas espanholas, de tijolos, terraços e linhas retas. Os azulejos, marca da cidade, são outra herança portuguesa.
A história está conservada e andar pelas ruas é como estar em um museu a céu aberto. Aliás, os muros erguidos pelos portugueses para se proteger dos ataques vindos do Rio da Prata seguem firmes e fortes.
Além da história conservada, Colônia de Sacramento oferece uma vida noturna agitada, restaurantes, cafés e hospedarias aconchegantes. E um povo para lá de hospitaleiro, agora orgulhoso dos feitos do Patablanca, como é chamado o time, em alusão a um cavalo que ganhava tudo nos páreos do hipódromo local nos anos 1970. Tão orgulhoso que lotou a estrada para se despedir da delegação no sábado (14) e repetiu a festa nesta segunda (16), quando o Plaza voltou com o 2 a 0 no Montevideo Wanderers e o título conquistado com uma rodada de antecipação, ao abrir quatro pontos do Nacional, de D'Alessandro.