As regras rígidas da La Liga, com o fair play financeiro, valem igual para todos. Inclusive para Messi, o melhor jogador deste novo século, e o Barcelona. Saiu a grande estrela da competição, é verdade, mas reforçou-se a imagem da liga e seu quase obsessivo controle financeiro. A La Liga adota um modelo preventivo de fair play. Ou seja, estipula um teto de gastos com jogadores e comissão técnica para cada clube, levando em conta seus balanços recentes e seu orçamento.
Como o Barcelona já havia batido o gasto com a folha salarial em 110% da receita, nem o apelo de Messi e o que representa em termos de marketing sensibilizaram a La Liga. É uma lição para nós, que vivemos em boa partes dos clubes aqui no Brasil um modelo de gestão que beira aventura na beira do precipício.
Javier Tebas, o presidente da La Liga e uma figura sempre polêmica por sua mão firme na condução dos interesses coletivos, admitiu que a saída de Messi "foi um pouco traumática" para o futebol espanhol. Mas também tratou de minimizar a perda do astro, lembrando que Neymar e Cristiano Ronaldo se foram, e o campeonato seguiu firme.
Segundo Tebas, os contratos de venda de direitos de TV foram comercializados sem cláusula de rebaixamento em caso de saída do craque argentino. O acordo para o Exterior foi de quatro anos. Há ainda outro com a ESPN, de oito anos. São valores que já estão garantidos.
— São jogadores importantes, claro, mas não são imprescindíveis — resumiu Tebas.
Enquanto o mundo noticiava a chegada de Messi à França, a La Liga assinava seu mais novo acordo bilionário. Com aprovação de 38 dos 42 clubes, foi fechado um empréstimo a juros baixos com o fundo de investimentos CVC que renderá 2,1 bilhões de euros a serem partilhados pelos clubes.
O pagamento será feito em 40 anos. Além disso, em troca, o fundo ficará, nos próximos 50 anos, com 10,95% dos valores arrecadados pela La Liga em vendas de direitos audiovisuais e 10% dos valores oriundos de outros modelos de negócios. Os quatro clubes que se recusaram a assinar o acordo foram Real, Barça, Athletic Bilbao e Oviedo.
A La Liga distribuirá esses 2,1 bilhões entre os 38 clubes que assinaram o acordo — eram necessários 32 votos. Cada clube receberá sua parte, mas a aplicação dos recursos obedecerá a uma diretriz da La Liga. A determinação é de que 70% do valor seja destinado a investimentos em infraestrutura e em avanços tecnológicos. Outros 15% devem ser usados para amenizar as dívidas provocadas pela pandemia. E os 15% restantes estão liberados para contratações de jogadores.