O futebol é um mundo de vaidades. Como são todos os espetáculos. Ainda mais aqui, em um Brasil no qual se consome o jogo como se fosse oxigênio. Isso explica muito da relação nervosa, tensa e pontuada por conflitos entre fonte e jornalista. Um quer esconder seus movimentos como se fosse segredo de Estado. Ou revelá-los conforme sua conveniência e a de quem ocupa seus cargos por prazos determinados na folhinha do calendário. O outro, no caso o jornalista, vive da notícia, cria músculos com aquela exclusiva, cresce quando entrega de bandeja para um voraz público consumidor a informação em primeira mão.
É nessa fronteira conflagrada que vive o assessor de imprensa de um clube. Trata-se de um personagem novo, peça essencial nesta engrenagem que virou a indústria do futebol. É ele quem tenta agradar gregos e troianos em CTs e estádios. Geralmente, não consegue. Mas há casos de quem cumpriu essa espinhosa missão sem perder a linha e, o principal, o norte. É o caso do João Paulo Fontoura, jornalista, apreciador de um mate bem cevado e da boa conversa e assessor de imprensa do Grêmio entre 2010 e 2020. Essa década passada do lado de dentro do coração gremista, o seu vestiário, e com vista privilegiada para a recente época dourada do clube virou o livro.
"Jornalismo e Vestiário, histórias e bastidores contados por um assessor de imprensa", editado com capricho pela Capítulo 1, será lançado nesta segunda e terça, para convidados, e no dia 26, com uma sessão de autógrafos no Complex Skatepark, no bairro Petrópolis, na Capital. A pré-venda tem preço promocional até este domingo, no site jornalismoevestiário.com.br.
Se você permitir, vou dar-lhe um conselho: leia. Mesmo que você seja colorado ou torcedor de outro clube. Leia porque o João traz muito mais do que histórias de conquistas com bastidores.
O livro dele, na verdade, serve como um guia prático que ajuda a entender o funcionamento de um clube de futebol. Esqueça aquela visão romântica de todo o torcedor, de que os ídolos estão ali, juntos, em um ambiente de pura harmonia e amizade. Nada disso. Há por trás do jogo de todos os domingos uma série de outros jogos. Principalmente, de interesses. Até porque, como nos mostra o João, os ídolos são seres humanos, com fraquezas e fortalezas como as dele, as minha e as suas. Eles precisam enfrentá-las e, se possível, querem fazer isso sem alarde, sem estar na capa do jornal ou viralizar nas redes sociais. É essa a tarefa que eles esperam que o assessor de imprensa cumpra. De fazer a janela par ao mundo ser discreta.
Posso dizer a você que esse trabalho de assessor de imprensa é quase uma missão de paz. Mas o João conseguiu cumprir porque nunca deixou de ser jornalista. É claro que, como assessor de imprensa, atendeu ao que exigia a organização para a qual trabalhava. Mas sem desviar um centímetro daquele preceito básico do jornalista, de nunca negociar a verdade.
Foi essa essência de repórter mantida nesses 10 anos que permitiu ao João nos brindar com um livro cheio de histórias, personagens e bastidores de conquistas e também de derrotas. Até porque, como reafirmei lendo o texto dele, o silêncio da derrota faz um barulho tremendo e ensina a ir em frente.