Doeu perder um título para a Argentina. Mais ainda no Maracanã, o nosso templo do futebol, a casa da Seleção Brasileira. Mas também foi um privilégio ver a história ser contada no Rio. A conquista da Copa América não foi da seleção argentina. Foi de Messi. Era a pedra preciosa que faltava em sua coroa de um dos grandes do futebol ganhar um título pelo seu país. Foi a Copa América, mas, podem ter certeza, teve o tamanho de uma Copa do Mundo.
Messi nem foi o grande nome do jogo. Essa deferência ficou dividida entre Di María, o craque discreto, Rodrigo de Paul, um meio-campista completo, e Otamendi, o caudilho da zaga que lembrou o viril Oscar Ruggeri em alguns momentos. Mas Messi é sempre o grande nome. Ainda mais numa situação dessas, em que encerrou uma série de 28 primaveras em que não brotou uma flor sequer, conforme ilustrou um jornal argentino.
Messi esteve presente em 16 desses 28 anos. Não era, portanto, o único responsável por esse longo período sem conquistas. Mas tudo recaiu em sua conta. Por isso, ele festejou tanto. Por isso, os jogadores foram todos abraçá-lo ao trilar o apito final. Messi, enfim, ganhou uma taça com a Argentina. Foi no Maracanã, é verdade. Teve zoação, com o "Brasil, decime que se siente, tener en casa a tu papá". Foi doloroso, claro. Mas ele merecia, e a história exigia esse capítulo.
A lição do abraço
Neymar chorou e, depois, foi procurar Messi para abraçá-lo longamente e parabenizá-lo pela conquista. Outros jogadores brasileiros foram parabenizar seus amigos argentinos. Pouco antes, Lionel Scaloni parou sua festa para consolar Neymar. E depois, foi a vez de Tite abraçá-lo e procurar Messi para congratulá-lo. Nunca é bom perder. O futebol é um esporte de competição e, como tal, todos entram para ganhar. Porém, tão nobre como vencer é saber perder.
Em um momento em que se polariza tudo nesse país e sobre tudo se coloca uma névoa de suspeita, as cenas do Maracanã foram uma aula de civilidade e de respeito. Se você não assistiu a essas cenas, procure nas redes sociais, tente rever. Dissemine depois. Precisamos de mais exemplos assim. Não se trata aqui de ver beleza na derrota, mas, sim, na forma como se lida com ela.
O futebol talvez seja a modalidade em que se tenha mais dificuldade de se adotar o espírito olímpico. No campo, não se enfrenta adversário, mas inimigo. A noite no Maracanã nos ajudou a lembrar o quanto insistimos em um caminho perigoso e belicoso. Perder nunca é bom, mas faz parte do jogo. Se soubermos por que perdemos, aprenderemos como ganhar.