O cenário visto após o apito final do árbitro, na noite deste sábado (10), mostrava exatamente o tamanho do fato histórico ocorrido no gramado do Maracanã. De um lado, Neymar era consolado pelos companheiros. Do outro, Messi era jogado para o alto por seus colegas de equipe.
Os argentinos estavam em êxtase pela vitória por 1 a 0, com gol de Di María, que rendeu a conquista da Copa América e encerrou uma seca de 28 anos da seleção principal — o último título havia sido do mesmo torneio, mas em 1993. Já os brasileiros voltavam a amargar um insucesso dentro de casa, como na Copa do Mundo de 2014, desta vez contra o maior rival do continente.
— Foi uma boa campanha, digna. Hoje (sábado), os dois podiam ganhar. Era 50% de chance, com dois jogadores que podiam decidir para cada lado, duas equipes bem treinadas. Agora é levantar a cabeça. Isso aqui (medalha de prata) é motivo de orgulho também — declarou o zagueiro Thiago Silva em entrevista aos canais Disney.
Mas o pranto do camisa 10 é compreensível. Em 2019, quando a Seleção ergueu a taça no mesmo Maracanã, com arquibancadas lotadas (bem diferente dos cinco mil permitidos pela Conmebol neste fim de semana), o craque do PSG não estava presente. Havia sido cortado por conta de uma lesão no tornozelo direito. Ironicamente, dois anos depois, foi obrigado a ver de perto a festa dos argentinos.
Ainda assim, após enxugar as lágrimas, Neymar foi abraçar Messi, seu ex-parceiro de Barcelona, que ergueria o troféu minutos depois.
— No futebol, existem adversários e não inimigos. E não é uma palavra para soar bonito ou justificar derrota. Assumimos nossos erros, mas tem uma coisa que transcende. Talvez esteja falando aqui o Adenor, professor de educação física, o pai de família, que se tenha dignidade em perder e reconhecer o outro lado. Foi isso o que se viu do Neymar com o Messi — comentou o técnico Tite.
Apesar da mensagem, o comandante não conseguiu esconder o abatimento no rosto. Afinal de contas, esteve muito perto e não alcançou um feito que segue inédito entre treinadores brasileiros: vencer duas Copas Américas.
E, apesar de repetir inúmeras vezes que reconhecia as qualidades do adversário, o treinador não deixou de fazer críticas à entidade que rege o futebol na América do Sul. Depois de perder Colômbia e Argentina como países-sede, que retiraram suas candidaturas por convulsões sociais e aumentos de contágio de covid-19, respectivamente, a Conmebol se abraçou na CBF e, às pressas, transferiu a competição para o Brasil.
— A organização da competição de forma muito rápida, ficou devendo muito. A qualidade dos gramados... Quase perdemos o Everton em um treinamento, que teve luxação de um dedo. Foi uma exposição excessiva dos atletas, em uma grande competição. E estou falando do Alejandro (Domínguez, presidente da Conmebol), que é o responsável pela competição — desabafou.
Reflexo disso ou não, o que se viu foi um jogo muito duro, com poucas jogadas de beleza plástica, em que se sobressaiu a sólida defesa argentina, que chegou a ser levemente criticada pelo auxiliar César Sampaio por conta do antijogo.
— Foi uma derrota dura. O Brasil nunca havia perdido (Copa América) em casa, porém, nestes momentos difíceis, não só no futebol mas em qualquer área da vida, a gente sai mais forte. Nossa jornada continua. Uma derrota nunca é boa, mas seguramente essa unidade que criamos vai dar muitas alegrias para o país — avaliou um dos assistentes de Tite.
É o que se espera. Após 45 dias juntos, os jogadores retornarão para seus clubes e só voltarão a se reunir em setembro, para mais duas rodadas das Eliminatórias. Antes disso, quem sabe, a seleção olímpica treinada por André Jardine ajude a cicatrizar esta ferida com uma medalha de ouro na Olimpíada, no Japão.