O ex-colorado Guilherme Parede virou um "expert" em Boca Juniors neste 2020. No fim de janeiro, foi contratado pelo Talleres, de Córdoba. Estreou dias depois contra o Boca, em casa. Entrou no segundo tempo, quando estava 2 a 0. Viu seu time descontar e perdeu o gol de empate no final.
No último dia 15, Parede, depois de rápida passagem pelo Vasco, estava outra vez diante do Boca com o Talleres. Na Bombonera, ajudou seu time a vencer por 1 a 0 e quebrar a série invicta do rival do Inter nesta quarta. Foi a primeira derrota no ano. Por telefone, de Córdoba, Parede conversou sobre o Boca com a coluna:
- Jogamos antes da quarentena e, agora, também sem público. Favorece jogar na Bombonera sem público. Fica menos difícil. O time do Boca é competitivo, todo mundo conhece os argentinos, como são e a forma como atuam. Fizemos um jogo de igual para igual, conseguimos mapear os pontos fracos e fortes deles, com os vídeos do professor Medina, nosso treinador. Fizemos um bom jogo, conseguimos um gol no final. O jogo foi tão competitivo que conseguimos o 1 a 0 apenas no final, nos favoreceu.
Como você imagina que virá o Boca ao Beira-Rio?
Fora de casa, qualquer equipe vai esperar um pouco para ter a reação. O Inter é muito forte no Beira-Rio, tem de propor o jogo. O Boca vai esperar um pouco, para entender o jogo, e depois vai querer propor, tem uma grande equipe, com Tévez, Villa, jogadores muito bons que fazem a diferença.
Você enfrentou o Boca em Córdoba, na sua estreia, e na Bombonera. Muda a forma de jogar do time?
Dentro de casa, claro, nos favoreceu a torcida, o jogo foi antes da pandemia. Fez toda a diferença. Aqui, não fizemos um bom primeiro tempo. Eles propuseram mais o jogo, jogaram mais para a frente. No segundo tempo, conseguimos controlá-los mais e sair para o ataque. Fomos nós que propusemos, e eles recuaram. Quase empatei no final. Um pouco mais de tempo, e conseguiríamos empatar e até virar. Em resumo, foi de igual para igual. Para encarar o Boca, tem de propor o jogo, ser intenso desde o início, isso faz toda a diferença. Não pode deixar o Boca pensar.
Quais são os pontos fortes desse Boca?
Eles têm dos lados dois jogadores de seleção, o Fabra, na esquerda, lateral da Colômbia, e o Toto Sálvio, que tem sido chamado pela Argentina. São grandes jogadores. O Villa é muito rápido, e o Tévez está fazendo a diferença. Pontos de atenção, portanto, nos lados e no meio, com o Tévez.
O Talleres foi o primeiro time a vencer o Boca neste ano e ganhou na Bombonera. O estádio vazio interfere?
Acho ruim para todos. Não só na Bombonera. Pelo fato de ter esse histórico todo do estádio do Boca, faz diferença, sim, jogar sem público. Agora, jogar lá, mesmo com arquibancada vazia, é algo diferente. O estádio é meio surreal, você começa a olhar para cima, para os lados. Impacta o jogador. É muito bom atuar lá, ainda mais contra uma equipe como o Boca. Conseguir ganhar lá, com ou sem público, é muito relevante.
Qual foi a repercussão dessa vitória em Córdoba?
A torcida aqui é apaixonada e acolhedora. Essa vitória foi muito badalada. Foi a terceira vez apenas que o Talleres ganhou na Bombonera. Fazia tempo que não acontecia, foi importante demais para o clube como um todo. Foi uma festa incrível no vestiário, todos pulando, gritando. Nos deu confiança e, além disso, assumimos a liderança do grupo. Pode ter certeza de que voltamos muito felizes e realizados para casa.
Você falou de que o Talleres mapeou pontos fracos do Boca. Quais seriam?
Na verdade, em jogos como esse não tem ponto fraco. Libertadores é algo à parte. Quem errar menos, sairá vencedor. Não saberia te apontar uma fragilidade, mas posso garantir: o time que jogar contra o Boca tem de ser intenso como eles e igualar na vontade, na força, isso vai fazer toda a diferença no campo. Mas o Inter tem os gringos, o D'Ale, o Cuesta, o Musto, que vão falar melhor disso internamente. Aqui, na Argentina, todas as equipes são intensas, é algo fora do normal para nós. Isso é algo que poucos clubes brasileiros têm.
Os argentinos acompanham muito treinadores e jogadores fora do país. Faziam isso com o Coudet. Como repercutiu aí a saída dele?
Me perguntaram se já tinha trabalhado com ele no Inter. Expliquei que saí antes da chegada dele. Fala-se bastante do Inter aqui, a imprensa acompanha muito pelos jogadores argentinos que estão aí. Não me de forma específica da saída dele, mas vi que repercutiu muito. O Coudet fazia um excelente trabalho, chegando em grandes competições. Fez um ótimo trabalho. É um baita treinador, com certeza, está fazendo falta.
É sempre difícil para um brasileiro o futebol argentino. Mas você parece adaptado no Talleres.
Me impressionei muito aqui com a intensidade. Todas as equipes atuam assim. Tenho essa característica, que me favoreceu bastante para entrar no ritmo dos companheiros. Fez diferença. Aliei isso à qualidade do brasileiro, que faz com que crie algumas jogadas fora do normal a que se vê aqui. Agora, a intensidade dos jogos é algo surreal, é anormal. É do começo ao fim da partida. O jogo não para por qualquer coisa. Não é qualquer faltinha que o árbitro marca. Isso é importante também para esse estilo daqui.