Paulo Pinheiro é o CEO da Brio, a empresa que administra áreas do Beira-Rio criadas a partir da reforma em 2014. Ou seja, a parceira, assim como o Inter, vive de público no estádio, de gente colorindo as cadeiras de vermelho e movimentando aquele ecossistema financeiro específico. Porém, entramos no oitavo mês sem público nos estádios e caminhamos firme para fechar 2020 com jogos apenas pela TV. Por isso, a coluna foi conversar com Pinheiro para saber como o coronavírus impactou as contas da Brio.
Qual o efeito e oito meses sem público nos estádios para a Brio?
Somos uma empresa como outra qualquer, temos sentido todos os efeitos que o mercado vem sentindo. Principalmente, se classificarmos o futebol como entretenimento, ele faz parte dessa indústria e enfrenta toda a problemática desse setor devido à quarentena.
Mas como sobreviver em um negócio que não recebe seu cliente?
Nossa estratégia comercial é focada em vender contratos de longo prazo, de um ano ou mais. Vendemos, claro, ingressos jogo a jogo também. Temos vários contratos em vigor. É, mais ou menos, como olhar contratos de locação de imóvel. O que acontece é que os locatários estão discutindo reajustes, pedindo descontos. Isso vale para nossas cadeiras e camarotes. Com o acréscimo de que não temos o produto para entregar, que é o jogo de futebol. Criamos estratégias para oferecer alternativas ao nosso torcedor, para que mantenha o contrato ativo, estendendo o prazo contratual, mantendo o contrato ativo e pagando depois. Temos várias alternativas. Mesmo assim, a dificuldade financeira de muitas e empresas nos impactam.
Qual o percentual de perdas pelo fato de não termos torcida nos jogos?
Hoje (quarta-feira), tivemos reunião mensal com os acionistas e repassamos dados. No setor de cadeiras e camarotes, perdemos, em média, 30% dos clientes. Isso não significa que todos os 70% estão pagando, muitos suspenderam o contrato. Quando retomarem, vão pagar. Mas há uma boa parcela que segue pagando e terá extensão do contrato no futuro. Tivemos perdas, mas, pelo incrível que pareça, tivemos vendas. Poucas, mas tivemos. Em outubro, foram seis cadeiras e um camarote. Mesmo sem jogo, a emoção fala mais alto. Fizemos muitas negociações. Essa é a palavra-chave, negociar, para manter.
Os outros setores do estádio, como lojas e bares, como estão?
Vale a mesma lógica de negociação. São 65 bares internos, e não estamos tendo jogos. Ou seja, não temos todos funcionando. Fizemos acordos. Suspendemos valores por um período, negociando por outro. Assim vamos tocar a vida. Enquanto não tiver público, seja qual for o percentual, nada voltará ao normal. Não tem pra quem vender, não adianta abrir a loja ou o bar.
Como a empresa se equilibra sem público no Beira-Rio?
Temos os contratos de publicidade, anuais, pagos no começo do ano e que nos ajudaram a sobreviver. Temo camarotes e cadeiras que seguem sendo pagas. Obviamente, passamos só olhando as despesas nesse período, administrando a folha de pagamento com todas medidas provisórias que o governo federal colocou à disposição. Suspendemos contratos de trabalho, reduzimos salários em 25%, muitos foram trabalhar em home office. O nosso escritório só reabriu em setembro, mas em horário reduzido, três dias por semana. Nos outros dois, trabalhamos de casa. O único que ainda não retomamos foi a loja do Coração do Gigante no Beira-Rio, na qual vendemos nossos produtos.
Além dos jogos sem público, também a quarentena fechou a agenda de shows. Houve perda nessa área?
Temos um show vendido, de estádio inteiro. Teremos de entregar. É o Boteco do Gustavo Lima. Tínhamos mais uma ou duas datas reservadas que caíram. Os shows, tenho muito cuidado, pela questão do calendário do futebol, pela relação com o Inter. Mas creio que esse mercado teve uma freada já antes da quarentena, pela elevação do dólar. Ficou caro trazer para cá as grandes atrações. As produtoras focaram onde poderiam ter grandes públicos. É mais rentável fazer três shows de uma grande banda em São Paulo do que trazer um para Porto Alegre. Elimina custos. Tenho solicitação de datas para 2022, um para show de estádio inteiro, com proposta na rua. Nossa estratégia para 2021 é é trazer eventos menores, que possam se encaixar no calendário do futebol e que usem espaços menores e não o estádio inteiro.
Nesse cenário, como vislumbra o fechamento de um ano em que o estádio passou nove meses fechado?
Uma coisa é o resultado operacional e outra é o resultado financeiro. O operacional é simples, tem jogo, tenho público. Bares, lojas, edifício-garagem geram renda, assim como painéis. O estádio tem um custo fixo, mas o resultado operacional com eventos, é positivo. O que transforma em negativo é a necessidade do pagamento dos financiamentos que foram buscados pelos acionistas para fazer a reforma do Beira-Rio. Foram R$ 350 milhões, aproximadamente, investidos na reforma do Beira-Rio. Grande parte vem de financiamento bancário via BNDES, Banrisul e Banco do Brasil. A conta da operação é superavitária, mas insuficiente para pagar o financiamento. O que nos salvou nesse período foi um beneficio do governo federal à empresas, que nos deu seis meses de carência para pagar as parcelas. Isso venceu em outubro mas me deu fôlego.
Quanto a Brio paga, mensalmente, do financiamento?
Cerca de R$ 3 milhões por mês. O financiamento é de 13 anos. Os demais sete do contrato com o Inter são para buscar o o valor investido. Essa carência de seis meses me deu fôlego. Estamos pleiteando novos auxílios. Claro, terei de pagar as parcelas ali na frente, mas esse período me permitiu não demitir ninguém.