Primeiro, foi Abel Hernández. Depois, Leandro Fernández. Em uma semana, o Inter garimpou em mercado restrito e sem muitas alternativas não um atacante, mas dois atacantes. Pelo salário e com os demais custos diluídos. O que está longe de ser casualidade ou negócios de ocasião que bateram na porta do Beira-Rio. Há um trabalho muito consistente por trás e um avanço significativo no que move o futebol do lado de lá do oceano, a análise de dados.
O Capa (Centro de Análise e Prospecção de Atletas) tem sido uma ferramenta muito acionada pelo vice de futebol Alessandro Barcelos e pelo gerente executivo Rodrigo Caetano. É dali que saem nomes, com suas estatísticas e valências esmiuçadas, para serem analisados e discutidos em comitê formado pelos dois dirigentes e pelo técnico Eduardo Coudet.
Há uma exigência básica para que um jogador siga no radar: ser consenso entre os três, o que significa ter bons números, qualidade técnica e, principalmente, encaixe no bolso do clube. A partir disso, avança-se a uma segunda etapa. E quando entra o poder de convencimento de Coudet, que pega o telefone para uma conversa com o jogador na qual expõe o trabalho desenvolvido no Inter e o aproveitamento que imagina para ele.
No caso de Abel, por exemplo, houve uma conversa no viva-voz com o técnico, Alessandro e Caetano. A primeira resposta fez o trio arquear as sobrancelhas. Ao ser questionado sobre a possibilidade de jogar em Porto Alegre, o uruguaio mostrou empolgação:
- Me encanta!
Um contraste com o tom moderado que havia mostrado Pato no mesmo tipo de conversa. Abel havia já conversado com Coudet, mas também havia sido bem recomendado por Forlán e Diego Aguirre, consultados pelos dirigentes. Levou-se em conta também aspectos particulares do uruguaio. Sua filha nasceu em março, e estar a uma hora de Montevidéu era um trunfo para o Inter.
No caso de Leandro Fernández, havia um conhecimento profundo de Coudet, que o enfrentara várias vezes no clássico de Avellaneda. Os números mostravam que ele estava muito perto do que necessita o modelo de jogo atual do Inter. Só que Fernández estava de malas prontas para jogar no Elche, recém chegado à elite espanhola.
A conversa com o técnico e o pacote oferecido pela direção o convenceram a mudar o rumo e descer em Porto Alegre. Assim, o Inter garimpou o segundo atacante em uma semana. Sem usar da intuição, mas com trabalho afinado entre os gabinetes e o campo.