Neste sábado (29), o técnico Fabiano Daitx receberá em sua casa, em Novo Hamburgo. um grupo de treinadores. A ideia deles é de ocupar o dia com uma discussão que começou em um grupo de WhatsApp e ganhou o tamanho do problema que procura solucionar. Pela primeira vez em décadas, profissionais que fazem pulsar o futebol do Interior se unem para evitar a morte dele com o desaparecimento de camisas centenárias e o sumiço do mapa de polos importantes do futebol. Técnicos, jogadores, árbitros, funcionários de clubes e sindicatos elaboram um documento que será levado à FGF com a sugestão de uma revolução profunda no calendário do futebol gaúcho.
A decisão de dirigentes de clubes de cancelar a Divisão de Acesso serviu como propulsor do movimento. A decisão deixou sem emprego, pelo menos, 800 profissionais. Mais do que isso, encerrou a carreira de muitos jogadores. Falamos de uma fatia do mercado em que os salários giram, em média, em R$ 1,5 mil, conforme me disse nesta semana o lateral Alexandre Bindé, líder de um movimento dos atletas liderado pelos capitães dos times. Sem o futebol, muitos foram buscar o sustento em outras atividades. Há casos de jogadores como servente de obra, ajudante em supermercado, motoboy, motorista de aplicativo e outros postos do mercado informal.
A perspectiva de volta do Acesso, talvez, apenas em junho de 2021, forçará que esse contingente fique quase um ano e meio sem rotina de treinos. Um tempo longo demais para que esses atletas consigam recuperar a forma física.
— Aqueles que têm família e filhos para sustentar já buscaram outros meios. Lá na frente, dificilmente trocarão a certeza do dinheiro garantido pela aventura que é jogar no Interior — explica Bindé.
É justamente para que evitar que o futebol seja uma aventura que o movimento iniciado pelos treinadores ganhou corpo. Os treinadores Fabiano Daitx, Fabiano Borba, Paulo Porto e Cristian de Souza, entre outros, elaboraram um plano que sugere um calendário de sete meses para os clubes sem série nacional. Começaria já em 2021. Ocuparia de julho a janeiro. Seriam 20 clubes divididos em dois grupos, Norte e Sul. Os três melhores se classificariam para jogar o Gauchão 2022 com os nove times que disputam da Série A à Série D. O campeão ganharia como prêmio, ainda, vagas na Copa do Brasil e na Série D.
Os dois últimos seriam rebaixados para a Segunda Divisão, uma competição de três meses, entre março e junho, e restrita jogadores sub-23. Essa é outra preocupação do movimento. Os clubes gaúchos abandonaram a formação. Somados os 28 times do Gauchão e do Acesso, apenas seis tinham time sub-20. Inclui-se aí a Dupla. O projeto sugere que todos os 20 clubes dessa nova competição tenham uma equipe sub-18, que competirá nas preliminares dos jogos. Cristian de Souza estima que, caso a proposta emplaque, serão criados, entre 2,5 mil e 3 mil empregos. Mas, mais do que isso, ajudará o futebol do Interior a sair da UTI.
— Esse colapso, nós já prevíamos que aconteceria em três ou quatro anos. A pandemia só o antecipou — diz Cristian, que comanda (ou comandava, ele não sabe ainda) o Veranópolis no Acesso.
O assunto, portanto, está a mesa. Trazido por quem mais sente na carne o falta de futebol. O Interior, enfim, reage.