O cancelamento da Divisão de Acesso jogou na incerteza mais de 400 jogadores. Não apenas isso. A falta de perspectiva de retomada do futebol no Interior provocará o fim precoce de muitas carreiras e criará um vácuo neste mercado de atletas. Alexandre Bindé é líder de movimento que congrega os capitães dos 16 clubes do Acesso. Ele conversou com a coluna e revelou uma mobilização, que conta também com os técnicos, para mudar o calendário do futebol gaúcho. Confira.
Qual a perspectiva de ficar sem competição para o restante da temporada?
Quando saiu a notícia do cancelamento da Divisão de Acesso, foi uma tristeza enorme, um misto de raiva e decepção. Como a FGF deixou chegar a esse ponto de cancelar a competição? Vemos outros Estados retomando, e, aqui no Rio Grande do Sul, uma potência do futebol brasileiro, não temos onde jogar. Por isso, é de raiva o meu sentimento e o dos guris (os demais capitães que criaram um movimento pelos direitos dos jogadores do Acesso). Nos últimos dias, se imaginava que viria o cancelamento. Nos levantamos para ser ouvidos. Fomos ouvidos, mas não fomos atendidos. O mais difícil é ver carreiras serem interrompidas.
Vocês se sentiram abandonados? Acredita que muitos jogadores encerrarão a carreira para buscar outro meio de sobrevivência?
Sim, muitos terão de abandonar o futebol. Um ano parado é muito tempo. Isso se tivermos uma Copa FGF, que pode sair em outubro ou novembro. Como se fala que o Acesso pode voltar só em junho de 2021, seria um ano e meio sem jogar. É diferente treinar em casa. Fazemos academia, mas a intensidade não é a mesma do dia a dia. Perde-se muito na parte fisica. Seguimos mobilizados, agora, para ver como ficam as rescisões de contrato. Soube que o Igrejinha já dispensou todos. Glória e Passo Fundo, me parece, fizeram isso também. Na próxima semana, nos reuniremos para ver o que será feito. Os clubes só querem pagar apenas o que está na carteira, sem o direito de imagem, isso se parar até novembro.
O que significa receber apenas a carteira?
Varia, mas em média significam R$ 1,5 mil mensais. No máximo, R$ 1,8 mil, que é o piso. Seria isso, para se virar até ter um campeonato. A FGF disse que ajudará em algumas rescisões, o que é importante. Aqui no meu caso, no Lajeadense, há uma transição no comando do clube. Temos de esperar para ver o que acontecerá.
Tem como um jogador da Divisão de Acesso retomar a carreira depois de um ano sem atuar?
Teremos muitos que abandonarão. Infelizmente. Com essa parada, quase seis meses, quem não tem um biotipo privilegiado, já está sofrendo. Vai ser um terror, caso demore um ano para atuar. Muitos já migraram para outras profissões, estão se virando. O jogador fica sem saber o que fazer, se vai atrás de um emprego ou espera a Copinha. Que alguns clubes talvez nem joguem. Você fica perdido no meio do caminho. Isso castiga, essa falta de definição.
Uma saída que é usada pelos jogadores é ganhar um extra no futebol amador. Só que esse também está parado.
Está tudo parado, temos de esperar. Na Copinha, a situação financeira já é terrível, a maioria recebe ajuda de custo e só. Por isso, o pessoal migra para o amador, para fazer um dinheiro extra. Cogita-se da volta do amador para setembro ou outubro. Mas nada é certo.
Quais os próximos passos do movimento criado por vocês?
Mantivemos o grupo dos capitães e, agora, nos unimos a um outro movimento, criado pelos treinadores. A iniciativa partiu do Fabiano Daitx. Na segunda-feira (24), fizemos uma videoconferência. A ideia é bolar um calendário de ano inteiro. Há um esboço criado por eles que nos foi apresentado para que déssemos sugestões. O próximo passo é fazer chegar à FGF essa ideia de reformular o calendário. Queremos agregar todos que trabalham com futebol, para mudar o cenário. Nesta reunião, além do Daitx, estiveram o Paulo Porto, o Cristian de Souza, Fabiano Borba, entre outros. É inadmissível clubes tradicionais, de cidades históricas no futebol, jogando 10, 15 partidas no ano.