Você que é consumidor de futebol, prepare-se para seis meses de doses cavalares de bola. Você terá um cardápio variado e farto. É muito provável que tenhamos partidas todos os dias da semana — e não me refiro ao combo Série A e Série B, como já acontecia antes do coronavírus. Falo da elite mesmo, da acomodação de rodadas do Brasileirão e da Libertadores.
O novo calendário publicado pela CBF proporcionará, neste ano virado de ponta à cabeça pelo vírus, que tenhamos até uma versão tropical do Boxing Day, a tradição inglesa de jogar entre o Natal e o Ano Novo. Teremos rodadas das Séries A e B no meio dos dois feriadões de final de ano. Mais, os finalistas da Copa do Brasil serão conhecidos na antevéspera do Rèvellion. Mais uma prova de como a pandemia triturou o calendário do futebol?
O campeão da Copa do Brasil pulará o Carnaval (com distanciamento, é bem provável) com a faixa de campeão no peito. A final será na quarta-feira anterior ao começo da folia. O campeão do Brasileirão também pode embalar duas festas em uma. A 35ª rodada será no sábado de Carnaval — o Flamengo, em 2019, por exemplo, foi campeão na 34ª. Mas a taça também pode ser entregue na Quarta-Feira de Cinzas, quando será disputada a 36ª rodada. Em resumo, prepare-se para entremear compras de Natal e brindes de Ano-Novo com futebol. E também para casar a ida à praia com o jogo do seu time. Assim, será o novo normal. Se não houver a sombra desse maldito vírus, já está valendo. Fecho agora.
Além de jogos em datas pouco usuais, a quarentena de agora provocará uma pororoca também no calendário de 2021. A discussão sobre como acomodar todas as competições na próxima temporada já começou. Ontem, em entrevista ao Sala de Redação, o presidente Romildo Bolzan Júnior deu uma pincelada do que será debatido ali frente: o novo formato para os Estaduais. Romildo defende a manutenção das disputas regionais. No que concordo em todas as letras. Os Estaduais representam a base da pirâmide do futebol brasileiro, são fundamentais para a formação de novos profissionais e para a revelação de jogadores. Sem contar a função social, ao dar empregos para cerca de 15 mil jogadores que estão naqueles 520 clubes fora de qualquer série do Brasileirão.
Acrescente-se a eles os profissionais de comissão técnica e de outras áreas dos clubes, esse número quase dobra, É preciso, portanto, manter esse mercado ativo. A saída, pelo que disse Romildo, parece desenhada para que tenhamos Estaduais começando, quem sabe, em janeiro com esses clubes e os das Séries C e D e tendo a entrada das equipes das Séries A e B em uma fase decisiva.
Libertadores
A grande questão que ficou sobre o calendário redesenhado pela CBF é que faltou espaço para a Libertadores. Ficaram abertas apenas sete datas no meio de semana. Quatro delas entre 25 de novembro e 16 de dezembro. As outras três são em janeiro. A Conmebol reúne seu Conselho nesta sexta-feira mais uma vez. A pauta, como não poderá ser diferente, tratará da retomada do futebol no continente.
A ideia oferecida pelo governo uruguaio de liquidar a competição em 25 dias no país, com os mata-matas reduzidos a jogos únicos, é uma alternativa guardada no fundo de uma gaveta. São necessárias 11 datas para finalizar a Libertadores. A tendência, caso a competição realmente seja retomada, será de termos jogos da competição continental e do Brasileirão na mesma data, com os clubes brasileiros reagendando seus compromissos locais.