O Inter e os outros sete clubes da Série A com contrato de transmissão por canal fechado com a Turner interpretaram o movimento da empresa em notificá-los por descumprimento do acordo como uma manobra para se retirar do mercado. No caso do Inter, isso significaria R$ 28 milhões a menos no caixa. O conglomerado alega que algumas cláusulas da relação foram infringidas e, por isso, estaria cobrando multa pesada dos clubes.
A principal reclamação é de que Palmeiras, Santos, Inter, Athletico-PR e Fortaleza tiveram mais do que seis jogos transmitidos em TV aberta ou streaming para as praças em que foram realizados – Ceará e Bahia ficaram no limite de seis. Isso, segundo a Turner, tiraria o peso de seu produto, por serem transmissões gratuitas. Estaria previsto no contrato multa de R$ 1 milhão por jogo. A questão é que nenhum dos clubes tem ingerência sobre a grade da TV aberta.
Outra cláusula que, conforme a Turner, teria sido descumprida diz respeito ao pay-per-view. O contrato diz que o valor não poderia passar de R$ 60 mensais. Também deveria haver cobrança extra ao assinante do PPV para usar o serviço de streaming. Mais uma vez, pontos sobre os quais os clubes não detêm qualquer poder de ação.
Por tudo isso, fica claro que o conglomerado busca uma rescisão do contrato de transmissão do Brasileirão. No ano passado, através dos canais Space e TNT, a Turner transmitiu 42 partidas em sua primeira temporada no principal campeonato do país.
Esse número aumentaria para 49 neste ano, com a volta do Coritiba à Série A. Os oito clubes se reuniram quinta-feira e elaboraram uma resposta conjunta à notificação. Na próxima semana, está prevista uma reunião com a Turner para definir os próximos passos desse casamento que, ao que tudo indica, não deverá durar por muito tempo.
Pode-se dizer que a relação entre Inter e Turner nunca foi só de flores. No final de 2018, quando ela apresentou a mercado publicitário seus jogos no Brasileirão, o clube aproveitou o encontro com os executivos para reivindicar cumprimento de cláusulas do acordo descumpridas.
A primeira era o desaparecimento dos canais Esporte Interativo da grade da TV fechada, com os jogos transferidos para canais de filmes, o Space e o TNT. Outra reclamação era financeira. A ideia de equidade evaporou quando os clubes descobriram pagamento de luvas diferenciadas ao Palmeiras. Os demais protestaram, e houve um novo acerto para que todos ficassem satisfeitos.
O Inter, é evidente, teme a perda de receita que teria garantida ao longo dos meses. Por outro lado, respira aliviado ao olhar a grama dos vizinhos. O contrato da Turner com o Inter acaba em 31 de dezembro deste ano, enquanto os outros sete clubes estão pendurados até o final de 2024.
Na verdade, essa diferença de quatro anos deve ser colocada na conta do presidente Marcelo Medeiros. Em 2016, quando Vitorio Piffero levou para o Conselho a proposta para assinar por seis anos, Medeiros liderou com Alexandre Chaves Barcellos e outros líderes do Movimento Inter Grande uma frente para que o acordo fosse reduzido a dois anos. O Conselho abraçou e aprovou esse prazo. Medeiros parecia prever o abacaxi que herdou.