Uma boa parcela dos críticos e até mesmo de gestores do futebol defendem há um bom tempo um alinhamento do calendário brasileiro com o da Europa. Ou seja, começaríamos nosso ano em julho e tocaríamos até junho do ano seguinte, passando lotado pelo verão sempre escaldante aqui nos trópicos, e pelo Carnaval, que em alguns lugares dura uma semana ou mais. A paralisação forçada pelo coronavírus criou, dizem os defensores da ideia, o ambiente perfeito para executar essa mudança.
Só que vivemos dias de pandemia, amigos, e o futebol também não escapou desse furacão chamado covid-19, que nos assusta e nos faz seguir, sem pestanejar, as recomendações de ficar em casa. O calendário da bola acabou de pernas para o ar. Se aqui no Brasil podemos empurrar a agenda de jogos e fazê-la com que entre 2021 adentro, na Europa ele pode fazer a volta contrária. Para fechar a temporada 2019/2020, muitos já defendem que ela se estenda até novembro, se "abrasileirando".
O técnico português André Villas-Boas, do Olympique, foi um dos que se alinharam a esse movimento. Villas-Boas argumenta que, além de fechar sem atropelos essa temporada, anteciparia um processo que seria necessário logo ali adiante.
Em virtude da Copa de 2022, marcada para ocorrer entre 21 de novembro e 18 de dezembro, para escapar do verão no Catar, a Europa já precisaria ajustar o seu calendário na temporada 2021/2022. Dessa forma, transcorreria entre janeiro e novembro em 2021 e 2022 e voltaria ao seu formato a partir de 2023, tendo um primeiro semestre tampão.
Janela
Um sinal de que a temporada europeia pode se estender até dezembro é a intenção da Fifa de alongar a janela de transferências de verão, a principal do mercado. Em situações normais, ela fecha sempre no final de agosto nos principais centros do lado de lá do Atlântico. Quarta-feira, a Uefa se reúne em videoconferência para tratar desses temas todos.
Por aqui, a defesa dos dirigentes por um calendário que avance até 2021 é por questões financeiras. A CBF defende que os Estaduais sejam disputados até o final — no que os clubes grandes concordam, afinal não podem se dar ao luxo de abrir mão de cota de TV alguma.
A mesma lógica se aplica ao Brasileirão. Ajustar uma fórmula que caiba toda em 2020 representa redução nos valores de direitos de transmissão.
Segundo o vice-presidente do Inter, Alexandre Chaves Barcellos, há um dispositivo que permite às redes detentoras dos direitos reduzirem o valor das cotas em caso de mudança de fórmula. O que é mais do que justo, afinal, terão menos jogos para transmitir e expor seus patrocinadores.
Em resumo, a pandemia do coronavírus colocou tudo de pernas para o ar. No futebol, a Europa pode jogar no calendário brasileiro, que, finamente, poderá se ajustar à agenda europeia. Sem que as duas se encontrem nas férias.