Em Belo Horizonte, de onde tece suas análises do futebol brasileiro, Tostão observa de perto os caminhos que toma o Cruzeiro pelo qual brilhou entre os anos 1960 e 1970. Craque das ideias como foi no campo, Tostão talvez seja hoje a voz mais lúcida no Brasil a tratar o futebol. Por isso, a coluna foi ouvi-lo para que desse sua opinião a respeito do confronto Cruzeiro x Inter pelas semifinais da Copa do Brasil. Confira:
Como o senhor está vendo esse momento do Cruzeiro na temporada?
O Cruzeiro vive péssimo momento, está na zona do rebaixamento, 10 jogos sem ganhar no Brasileirão, sete jogos sem fazer gol. O time está muito mal. Agora, o torcedor e a crônica esportiva apostam nisso. Existe a possibilidade de o time, pelo costume de jogar partidas de mata-mata, pelo bi da Copa do Brasil, que em um jogo desse tipo possa jogar o suficiente para ganhar. O Cruzeiro não jogou bem contra o River, mas quase se classificou. E o River é um time forte. Só que o Cruzeiro empatou os dois jogos em 0 a 0 e poderia ter ganho nos pênaltis. A esperança é de que o Cruzeiro, mesmo muito mal, faça dois jogos de exceção no mata-mata. O Inter, apesar de estar melhor, não quer dizer que seja o favorito. Na verdade, não há favorito neste confronto.
O senhor acredita que as questões administrativas do Cruzeiro, com denúncias de desvios, possam estar influenciando no time?
É menos provável, o time já estava mal antes de saírem essas notícias. Agora, que isso é péssimo para o clube, não tenha dúvidas. O Cruzeiro está precisando de uma reformulação tanto dentro de campo, na sua maneira de jogar, quanto fora de campo, para entrar uma nova diretoria em busca de melhorar (as questões administrativas). O Cruzeiro vive um momento ruim dentro e fora de campo, que contribui no estado atual do clube. Aliás, o Inter teve problemas desse tipo, como Cruzeiro, com corrupção, não teve?
Neste momento, Tostão deixa de ser entrevistado e assume a posição de grande cronista esportivo que é.
Me atualiza, como ficou essa situação?
No âmbito do clube, os dirigentes foram punidos, enquadrados pela Lei do Profut em julgamento no Conselho Deliberativo. Também foram julgados pela Comissão de Ética do Conselho e perderam até mesmo suas carteiras de sócios. Em paralelo, há uma investigação em curso do Ministério Público aqui do Rio Grande do Sul. Em dezembro, houve diligências em escritórios e endereços dos dirigentes investigados. Os promotores estão, agora, cruzando as informações que tinham com o que coletaram em celulares, notebooks e documentos apreendidos nas diligências de dezembro.
Ou seja, tem uma investigação em andamento, é isso?
Sim, a investigação segue, esperamos que em pouco tempo o MP volte a se pronunciar ou apresentar resultados de mais uma etapa de investigação.
Feito esse parêntesis, Tostão voltou a falar do confronto Cruzeiro x Inter.
Mas voltando ao jogo, o time do Inter é muito forte, pelo tipo de jogo, em mata-mata. Será interessante esse confronto. O Inter é seguro como time. O Cruzeiro confiou sempre nessa segurança nesses dois títulos da Copa do Brasil, jogava no limite dela. Segurança total. No último caso, empatava em 0 a 0 e ganhava no pênaltis. Nisso, o time do Inter é muito parecido, é forte, seguro na defesa e no meio. É difícil fazer gol no Inter. Trata-se de um time que não é de fazer muitos gols, embora tenha crescido com o Guerrero. Em casa, o Inter ganha, e nisso se parece com o Cruzeiro do bi da Copa do Brasil, que empatava fora e vencia no Mineirão. O lado negativo desse time do Inter é que geralmente não ganha fora. O Cruzeiro joga com a possibilidade de fazer o 1 a 0 em Minas e empatar aí no Sul. Como o Inter costuma fazer. Serão dois jogos com times cuidadosos. Prevejo um confronto muito amarrado.
O senhor tem acompanhado o Inter? O que acha da equipe?
Gosto muito do meio-campo do Inter, principalmente do Edenilson. Esse jogador atua de área a área, tem uma vitalidade impressionante. O Cruzeiro não tem esse jogador. A maior deficiência do Cruzeiro é que tem dois volantes burocráticos, que só jogam marcando, dão bolas para o lado. O Inter, além do Edenilson, tem o Patrick também. São dois jogadores que atacam e defendem.
Aqui no Sul já se trabalha com uma possibilidade de o Edenilson ser lembrado pelo Tite
Eu acho ele excelente, na posição ele é muito bom. Tem, nesta posição, também o do Athletico-PR, o Bruno Guimarães, que também tem alto nível. Só que o Bruno é mais leve. Mas são dois jogadores de qualidade. Gosto muito do Edenilson.
O senhor acredita que a Copa do Brasil pode determinar o futuro do Cruzeiro na temporada?
Provavelmente, se o Cruzeiro for eliminado da Copa do Brasil e estando na zona do rebaixamento do Brasileirão, haverá mudanças profundas e determinará o rumo do clube no ano. O Mano Menezes correrá grande risco. Não só ele. A diretoria também. Já saiu um dirigente e pode cair mais gente.