Nem D’Alessandro, do Inter, nem Maicon, do Grêmio. A cabeça do Gre-Nal 419 se chama Marina Tranchitella, paulista de 32 anos que ainda se acomoda em sua nova vida em Porto Alegre. Você nunca ouviu falar da Marina porque ela não entra em campo. Mas, em dia de jogo no Beira-Rio, só falta fazer isso. Marina é a gerente de operações do Inter. O que significa comandar a partir de dois telefones celulares e um rádio comunicador um time
de 3 mil pessoas, contando funcionários terceirizados, que fazem a partida acontecer.
A missão parece simples. Não é. Posso garantir: a complexidade é desafiadora. Em resumo, Marina precisa é fazer com que todos trabalhem de forma sincronizada e eficiente. O gol dela é quando o torcedor desfruta sem perceber que há um mundo trabalhando para o bem-estar dele nos bastidores.
Marina, é evidente, é parte de um engrenagem gigantesca. Na quinta-feira, enquanto conversávamos na vice-presidência de administração, no Beira-Rio, fez questão de reiterar o quanto é coletivo o trabalho. Os outros dois presentes na sala, o vice Alessandro Barcelos e o diretor-executivo Luciano Elias, são alguns dos motores da máquina que faz acontecer um jogo, seja para 10 mil pessoas ou para os 44 mil previstos neste domingo.
O Inter buscou Marina no mercado justamente para cuidar da operação em dia de jogos. Mestre em Gestão do Esporte pela Universidade do Porto, e com certificações internacionais, ela ostenta no currículo atuações nas Copas das Confederações e na de 2014, na Rio 2016 e, por último, nos Jogos Olímpicos da Juventude, disputados em outubro, em Buenos Aires.
A experiência na Argentina ajudou a criar casca e a derrubar barreiras. Os hermanos a viam com resistência. Afinal, era uma mulher – brasileira – no comando da segurança de um evento gigante. Isso a ajudou a tirar de letra o fato de ingressar em um ambiente masculino como o futebol e que, aqui no Estado, tem poucas mulheres em cargos de comando.
O calendário também acelerou o processo. Só nos primeiros 10 dias de abril foram 120,4 mil torcedores ao Beira-Rio. Esse número pode saltar para 165 mil com o Gre-Nal.
A tarefa de Marina é fazer com que toda essa gente chegue e saia em segurança. Para isso, o trabalho em dia de jogos começa por volta das 9h e acaba, geralmente, duas horas depois da partida. O planejamento, porém, vem de antes, com reuniões em série.
Qualquer ação no estádio está prevista e precisa ser executada com precisão britânica. Dois exemplos deste domingo: às 15h47min, os jogadores deixarão o vestiário em direção ao campo. Às 15h54min, devem estar perfilados para o Hino Nacional. E assim, vai.
Quando isso estiver acontecendo, Marina estará no Centro de Comando de Operações, o QG do estádio. Dali, ela e os responsáveis pela segurança dissecam cada canto do Beira-Rio. São 290 câmeras em HD que enviam imagens para uma parede de monitores. É possível ver o detalhe do detalhe.
Por causa desse monitoramento, Marina pouco vê do jogo. É comum ter de perguntar o resultado. O placar interfere na estratégia de saída do público. Quando todos estão a caminho de casa, o trabalho se encerra, e Marina respira aliviada. Será assim neste domingo. Afinal, não é fácil ser a dona do Gre-Nal.