Uma clima úmido, uma torcida entusiasmada e um clube com 116 anos de vida e em seu melhor momento desde sua fundação. Este e o ambiente que espera o Grêmio em San Miguel de Tucumán na próxima terça-feira (18), quando o Atlético Tucumán, conhecido como El Decano, recebe o clube gaúcho pelas quartas de final da Libertadores. Que cidade é essa? Que estado é esse? Saiba tudo sobre Tucumán.
O berço da Independência
San Miguel de Tucumán é uma capital de expoentes entre as demais capitais argentinas. Primeiro, pela sua importância histórica. Foi ali que, 9 de julho de 1816, declarou-se a indenpendência do país.
Inclusive, desgostoso com a decisão de formar uma república, o general José de San Martín, favorável à criação de um Estado monárquico, atravessou os Andes e foi libertar Chile e Peru. Mas San Miguel ficou para a história como "Cuna de la Independencia" (em português, Berço da Independência).
Aliás, segue intacta até hoje a casa onde houve a tensa reunião que decretaria a libertação do jugo espanhol e o modelo de governo do novo país. É um dos únicos pontos turísticos de San Miguel de Tucumán. Ganhou um museu e virou patrimônio histórico.
El Jardín de la República
A capital tucumana também atende na Argentina pelo apelido de Jardim da República. Graças às generosas porções de áreas verdes na cidade e nos valores em seus arredores. O Parque 9 de Julho, na região central de San Miguel, é outro ponto turístico e apontado como o "pulmão da cidade". Também pudera, tem 400 hectares - 10 vezes mais do que a área de parque da Redenção, para se ter uma ideia. O 9 de Julho foi um presente do governo da província de Tucumán à cidade, pelos 100 anos independência do país. Hoje, além de ser destino dos tucumanos no fim de semana, abriga o Museu do Açúcar e conta com ambulantes vendendo facturas, doces típicos argentinos à base de massa e com recheios variados - doce de leite, de marmelou ou creme. A medialuna é a mais famosa das facturas.
La Negra
Uma das vozes mais fortes da América do Sul, Mercedes Sosa brilhou nos palcos com sua música e fora dele na luta ferrenha contra as ditaduras que amassaram as democracias no continente nos anos 1970 e 1980.
La Negra, como ficou conhecida no mundo inteiro, pela sua origem autóctone, é a filha mais famosa de San Miguel de Tucumán. Nasceu lá em 1935. Quis o destino que viesse ao mundo em um 9 de julho. Talvez por isso lutasse tanto pela democracia. Ficou conhecida no continente como a "voz dos que não têm voz".
Por isso, virou inimiga pelo ditador Jorge Videla. Ao ponto de ser revistada e presa no palco, durante um show. Precisou se exilar da sua Argentina, cuja música regional cantou a plenos pulmões. La Negra, mais do que uma voz, era o símbolo de uma luta pela liberdade em um país acizentado pelos anos de chumbo.
Em seu repertório, além das músicas saídas das letras do compatriota Atahualpa Yupanqui e da chilena Violeta Parra, não poderiam faltar uma homanagens à sua cidade do coração, como Luna Tucumana, Si llega a ser tucumana e Al jardín de la república. La Negra morreu em 2009, aos 74 anos, Sua memória, porém, segue muito viva em San Miguel de Tucumán. No Museo Folklorico Provincial, há uma sala dedicada a ela. Uma estátua foi erguida no centro de informações turísticas da cidade. E seu nome batiza o teatro municipal.
Calor, muito calor
É bom o Grêmio caprichar no carregamento de água. San Miguel de Tucumán é um forno a céu aberto. No alto do verão, a cidade ferve. A temperatura bate fácil a 45ºC. É impossível viver sem ar condicionado. Em todas as peças da casa, como bem ressalva o jornalista Nicolás Iriarte, do La Gaceta, umdos principais jornais da província de Tucumán.
Nestes dias de primavera, San Miguel vive seus dias mais amenos. A previsão é de que a temperatura bata nos 30ºC na próxima semana. Nada absurdo. O problema para os visitantes, conta Iriarte, é a umidade do ar. Sempre alta, na casa dos 80%.
Cítricos para o mundo
O clima de Tucumán propicia que as plantações de cana-de-acúcar sejam o motor da economia local. São mais de 5 mil produtores. Os 15 engenhos da região empregam 45 mil pessoas e produzem 57% do açúcar consumido na Argentina.
O açúcar é assunto tão sério que, no ano passado, o governo de Tucumán foi à Justiça questionar uma decisão da prefeitura de Córdoba, que aprovou lei obrigando os donos de estabelecimentos comerciais a retirarem das mesas os sachês de açúcar. O consumidor que desejasse adoçar o café teria de pedir o produto ao garçom.
O clima também favorece a plantação de cítricos. O limão é outro produto que move a economia local. Aviões norte-americanos e europeus descem em San Miguel para embarcar diariamente grandes quantidades da fruta.
Populosa e distante
Tucumán é a menor província da Argentina. Tem 22,4 mil metros quadrados. Como comparação, o Rio Grande do Sul tem 281.748 metros quadrados. Ou seja, é 12,5 vezes maior. Se é a menor, Tucumán se orgulha de ser a mais a província com maior densidade demográfica, com seus 1.448.188 habitantes (527m6 mil moram na Capital). Principal fonte econômica do norte da Argentina, Tucumán está localizada a 1,3 mil quilômetros de Buenos Aires. Ir até Assunção, por exemplo, é mais perto _ a capital paraguaia está 1,05 mil quilômetros. La Paz é um pouco mais distante, 1,6 mil quilômetros.
Vermelho e azul
Tucumán lembra muito o Rio Grande do Sul. Não apenas pelo apreço pela cultura regional, mas também por ser dividido em azul e vermelho. O azul é o Atlético Tucumán, e o vermelho, o San Martín.
Depois de muitos anos patinando nas divisões menores da Argentina, a temporada que iniciou-se em agosto é histórica. Pela primiera vez em 37 anos, os dois grandes rivais se enfrentarão em um clássico pela primeira divisão da Argentina. O Atlético Tucumán subiou em 2015, depois de cinco anos afundado na Segunda Divisão.
O San Martín teve dois acessos seguidos e voltou à elite depois de 10 anos. No dia 18 de julho, em amistoso, o Atlético venceu o rival por 1 a 0, no José Fierro, seu estádio. O clássico valendo e histórico ainda não tem data definida. Mas está previsto para o início de dezembro. E, depois dele, Tucumán saberá se o Papai Noel será azul ou vermelho. Uma história que já foi vista por aqui, nos nossos pagos, não?