Há 30 anos, os brasileiros tentavam entender a URV. Em meio a muita desconfiança, o governo de Itamar Franco lançou a Unidade Real de Valor, indexador de preços e contratos, em 1º de março de 1994. Por quatro meses, os preços de cruzeiros reais eram convertidos em URVs, com ajuda de uma tabela.
Os consumidores ficaram confusos, mas a medida ajudou na transição para o real. A conversão de preços e tarifas à URV não representava impedimento para aumentos. Não ocorreu tabelamento de preços. A URV ganhou status de moeda, mas sem circular como moeda. O cruzeiro real era o dinheiro na mão dos brasileiros.
O Brasil vinha de quatro trocas de moeda em poucos anos. Desde 1986, o cidadão carregou no bolso cédulas de cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real. Os planos econômicos e os cortes dos zeros estavam na rotina. Em nova tentativa de matar o dragão da inflação, surgiu o Plano Real, comandado pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
Uma URV equivalia a aproximadamente um dólar. No início de março, correspondia a CR$ 647,50. O comércio precisou se adaptar, apresentando os valores em cruzeiros reais e URVs.
Em reportagem de Zero Hora, a empregada doméstica Maria Marilene da Silva Cabral traduziu a desconfiança de parte dos brasileiros. Ela devolveu a pergunta do repórter com outra pergunta.
— Por que eu deveria receber em URV se moro no Brasil e não conheço estas outras moedas que inventam? — questionou Maria.
A URV não acabou com a inflação. Em março de 1994, o IBGE calculou INPC de 43,08%, pouco acima de fevereiro. A inflação anual superava os 3.000%. Os supermercados reajustaram os preços de forma assustadora na véspera da implantação da Unidade Real de Valor. O feijão, por exemplo, ficou até 97% mais caro em Porto Alegre.
Em 1º de julho de 1994, no lançamento do real, R$ 1 equivalia a 1 URV, que já correspondia a CR$ 2.750. A Unidade Real de Valor serviu como uma referência de preços, mesmo sofrendo variação diária.
Depois de 30 anos, a URV permanece no noticiário devido aos processos judiciais sobre a conversão dos salários no Plano Real, em 1994.