Em férias no Rio de Janeiro, chego para conversar com meu filho Antônio, que jogava bola com um menino na praia. Logo nas primeiras palavras que troco com os dois, o piá de 12 anos, criado na Rocinha, reage com seu sotaque carioca, ao estilo do ex-jogador Romário.
- Por que ele fala assim? - questiona, apontando para mim.
- Como? - eu respondo surpreso.
- Ué, assim como você está falando - devolve.
Prontamente, explico que o Brasil é cheio de sotaques regionais. Na areia, desenho um mapa do Brasil para mostrar onde fica Porto Alegre. Meu filho comenta que o guri também tem um sotaque, não deixando dúvidas da sua origem. Esclareço que, além do jeito de falar, as palavras tem sentidos diferentes em cada região.
- Tu sabe o que é pila? - dispara meu filho.
- Pila? O que é pila? - responde com perguntas o menino.
- É o dinheiro lá onde moro - explica Antônio.
- Vocês não têm Real? Só pila? - continua questionando o garoto.
Volto a entrar no diálogo para esclarecer que é só uma forma de denominar o dinheiro. O Real também é a nossa moeda. Nem precisei explicar a origem, ficou por isso mesmo. Ele entendeu. Com "cinco pila", deu para comprar dois pacotes do biscoito Globo na praia.
O nosso pila resistiu aos planos econômicos e trocas de nome das moedas no Brasil, passando pelos réis, cruzeiros, cruzeiros novos, cruzados, cruzados novos, cruzeiro real e reais. Sempre no singular, é usado normalmente para se referir a valores mais baixos. A versão mais difundida para a origem da expressão remonta à década de 1930.
O médico e político maragato Raul Pilla, depois apoiar Getúlio Vargas na Revolução de 1930, integrou o movimento liderado por paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932. Com o sufocamento e prisão de seus correligionários no Rio Grande do Sul, ficou exilado no Uruguai e na Argentina. O Partido Libertador fez campanha para arrecadar recursos para o ajudar financeiramente. O gaúcho só voltaria ao Brasil após a anistia de 1933. Os "pillas", como se referiam ao auxílio, teriam virado simplesmente "pila" ao longo do tempo.
Não é a única palavra para se referir ao dinheiro. Ouço ainda falarem em mango, conto e pau, usado para valores mais altos. Em outros estados brasileiros, mesmo que não entendam, diga "pila" sem constrangimento, mas cuidado se for viajar a Portugal.
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