O tricampeão mundial de Fórmula-1 Ayrton Senna da Silva morreu depois de acidente no GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Pela transmissão da TV Globo, os brasileiros assistiram à saída de pista, na curva Tamburello, naquela manhã de domingo, em 1º de maio de 1994. A Williams dirigida pelo piloto bateu violentamente contra o muro. Os fãs, apreensivos, viram o socorro na pista. Aos 34 anos, o ídolo morreu no hospital Maggiore, em Bolonha, às 13h40 (horário de Brasília).
Lembro como se fosse hoje do momento que me contaram sobre o acidente. Senna morreu no auge da carreira. O piloto era uma rara alegria para o povo brasileiro, que vivia tempos difíceis na economia, convivendo ainda com a hiperinflação. No futebol, nossa seleção brasileira estava sem um título da Copa do Mundo desde 1970.
Nas manhãs de domingo, grande parte dos brasileiros torcia para ouvir a música Tema da Vitória e os gritos de alegria de Galvão Bueno em mais uma vitória do ídolo. Senna também era querido fora das pistas, um cara simpático, figura que inspirava crianças e adolescentes.
O acidente
O Autódromo Enzo e Dino Ferrari, cenário da tragédia, já era conhecido pelos graves acidentes. No GP de San Marino, o terceiro da temporada de 1994, o brasileiro Rubens Barrichello sofreu acidente no treino da sexta-feira, resultando em fratura no nariz e fissura em costela. O treino do sábado foi marcado pela morte do austríaco Roland Ratzenberger em outra saída de pista. Mesmo assim, a corrida foi mantida no domingo. Senna estava preocupado e comentou que a pista era "muito escorregadia, muito perigosa, com muito pó e os golpes de vento desequilibram o carro".
O brasileiro, que não completara as duas provas anteriores da temporada, saiu na pole position. Na sétima volta, o Brasil perderia o ídolo. O carro não venceu a curva e bateu no muro. Um pedaço da suspensão se partiu e penetrou no visor do capacete. O laudo apontou que morte foi causada por fraturas múltiplas na base do crânio e esmagamento do osso frontal, com hemorragia cerebral, edema e lesões generalizadas no cérebro. Incrivelmente, a corrida continuou. O alemão Michael Schumacher, da Benetton, foi o vencedor. Por telefone, no início da tarde no Brasil, o repórter Roberto Cabrini, da TV Globo, transmitiu a chocante notícia da morte.
Luto em Porto Alegre
Em época sem internet e redes sociais, as notícias foram acompanhadas pela TV e pelo rádio. O jornal Zero Hora descreveu nos dias posteriores a repercussão em Porto Alegre. Na segunda-feira, foi uma corrida às bancas de jornais. O tema nas rodas de conversas era a tragédia.
Em escolas, alunos fizeram homenagens ao piloto. No bairro Cidade Baixa, um fã estendeu entre dois postes da Rua Lima e Silva um pano com a mensagem "Senna Vive". Uma missa foi rezada na Igreja São Pedro. A Casas Tigre, na Avenida Ipiranga, colocou grande painel com a mensagem "Valeu, Senna, você foi simplesmente o melhor dos melhores".
Enterro em São Paulo
O enterro ocorreu em 5 de maio de 1994, uma quinta-feira, no Cemitério do Morumbi, em São Paulo. O caixão foi carregado pelos campeões da F-1 Emerson Fittipaldi, Alain Prost e Jackie Stewart. Pela estimativa divulgada na época, 250 mil pessoas passaram pelo velório na Assembleia Legislativa. A namorada do piloto, Adriane Galisteu, ficou o tempo todo no local.
Seis pessoas foram indiciadas pela morte, mas ninguém ficou preso. Em 2007, a Suprema Corte italiana confirmou que o diretor técnico da Williams, Patrick Head, foi responsável por homicídio culposo (sem intenção). Ele não cumpriu a pena, porque o crime prescreveu. Pela sentença, "a causa do acidente foi a ruptura da barra de direção, causada pela modificação mal projetada e executada, conduzindo a um comportamento culposo e omisso de Head, já que o acontecido era previsível e evitável".
O Instituto Ayrton Senna, fundado pela família após a morte, mantém ações para melhorar a educação no Brasil, deixando vivo o legado do ídolo além das pistas.