A maior enchente da história do Rio Grande do Sul destruiu memórias de famílias e cidades. Em casas e museus, a água levou objetos, documentos e fotografias. Em um dos pontos de maior inundação do Centro Histórico de Porto Alegre, resgatei um álbum de fotos. Depois de publicar nas redes sociais, localizei a família das imagens longe do Rio Grande do Sul.
No último domingo (26), circulei de bicicleta para registrar as marcas da enchente nas áreas de Porto Alegre. Depois de três semanas, consegui chegar ao lado da rodoviária, onde a inundação ficou em 1m60cm. Na parada dos ônibus municipais, perto do acesso à estação da Trensurb, encontrei um álbum de fotografias abandonado. Como estava aberto e acomodado no banco, deduzo que alguém passou por ali e localizou a memória de uma família depois que a água baixou.
Como as fotos estavam molhadas e correndo risco de mais danos, decidi levar o álbum para casa. Nem todas as imagens resistiram à enchente, mas 24 fotos, com algumas manchas, guardam momentos felizes de uma família. Depois da limpeza, pendurei uma a uma no varal do apartamento.
Nas redes sociais, pedi ajuda para localizar a família. Imaginava que era uma das tantas que saiu de casa às pressas, sem conseguir levar as coisas afetivas. Em menos de 24 horas, após muitos compartilhamentos, recebi mensagens do casal Alex Vieira e Lívia Prates, moradores de Tramandaí. Eles reconheceram a família de amigos que vive em Pernambuco.
A história do álbum ficou ainda mais intrigante. A família não mora aqui? Como as fotos foram parar na enchente ao lado da rodoviária de Porto Alegre? Com o contato em mãos, telefonei para a família e desvendei o mistério.
O álbum é do Denys Cadoni e da Maysa Nimtz, proprietários da pousada Casa Colorida, em Porto de Galinhas. Na maioria das fotos, aparecem os filhos Mel, 8 anos, e Raul, 6 anos. Nenhum é gaúcho. Nenhum esteve em Porto Alegre.
Eles viajaram de carro para São Paulo em abril, e depois seguiram de ônibus até Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Visitaram a família do Denys.
— Esquecemos no ônibus uma mochila com coisas pessoais. O álbum de fotografias, um livro feito pela minha filha e outras coisas para levar para a avó e uma tia das crianças — lembra Maysa.
Quando perceberam a falta da mochila, fizeram contato com a empresa Itapemirim, mas não foi localizada. A parada final da viagem era Porto Alegre. O que aconteceu com a mochila na capital gaúcha é incerto. O fato é que o álbum de fotos ficou em meio à enchente duas semanas depois.
Fiquei emocionado ao conversar com a Maysa na manhã desta terça-feira (28). As fotos salvas serão colocadas em um novo álbum, já que o da família ficou destruído na água. Por outra coincidência, a colega Rosane de Oliveira viajará no final de junho para a linda praia de Porto de Galinhas. Levará na bagagem as fotos para entregar em mãos ao Denys, à Maysa e às crianças.
Eles já sabem que as imagens carregarão agora as marcas da maior enchente da história do Rio Grande do Sul.
Final feliz
No final de junho, as fotos chegaram à família em Porto de Galinhas. Assista ao vídeo da entrega do álbum e de uma carta que escrevi para Denys, Maysa e as crianças.