Protagonista de uma história incomum, o padre Paulo Müller deixará boas lembranças na família e na Igreja Católica em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Aos 87 anos, o religioso morreu na madrugada de domingo (31) e foi sepultado no cemitério da paróquia Nossa Senhora da Piedade. Do casamento antes do sacerdócio, deixa quatro filhos, cinco netos e três bisnetos.
Em momentos raros na Igreja, o padre celebrou casamentos de um filho e de um neto, além de batizar netos e bisnetos. Em 2022, dias depois da cerimônia do matrimônio do neto Ânderson Martins Müller, o religioso contou sua trajetória de vida ao repórter Tiago Boff na Rádio Gaúcha. Nascido em 18 de agosto de 1936, desde criança queria ser padre.
— Era um desejo de infância, eu achava bonito ver a missa. Tentei aos nove, aos 14 e aos 19 anos, mas na época não fui apoiado. Tive que escolher alguma coisa na vida e escolhi a namorada, mãe dos meus filhos — relembrou.
Em 1959, Paulo casou com Lizzete, jovem que conhecera em uma confeitaria de Novo Hamburgo, após ser liberado do serviço militar. A mãe dos seus quatro filho morreu em 1988.
Três dias após o sepultamento da esposa, Müller procurou a diocese e propôs se dedicar à Igreja. Logo, passou a ajudar em atividades como catequese e leitura nas missas. Com o tempo, viu que poderia realizar o sonho de infância.
— Ele foi evoluindo, recebendo incentivo na diocese para a formação. Primeiro, foi ordenado diácono. Depois de autorização do Papa João Paulo II, conseguiu ser padre — recorda o filho Daniel Müller, que teve o casamento celebrado pelo pai.
Aos 58 anos, Paulo Müller foi ordenado padre em 2 de junho de 1995. O fato de ter filhos, netos e bisnetos despertava a curiosidade de fiéis.
— Não é comum, né? Sou exclusivo — reagia com bom humor.
Em 15 novembro de 2023, o padre ainda conseguiu ordenar diácono o filho Adriano Müller. A cerimônia precisou ser antecipada em alguns meses por causa da situação de saúde do religioso. Recentemente, soube que teria mais um bisneto.
O padre, que era vigário paroquial na Catedral São Luiz Gonzaga, morreu em consequência de problemas pulmonares. Paulo Müller foi uma prova de que nunca é tarde para realizar um sonho e começar uma nova vida.