O ano de 2024 será marcado por muitas celebrações pelo bicentenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul. Governo do Estado, prefeituras, empresas, clubes e associações preparam atividades para lembrar os antepassados que cruzaram o Oceano Atlântico. Em 1824, o Brasil estava dando os primeiros passos depois da independência. Na Europa de língua alemã, Dom Pedro I buscou soldados para seu exército e famílias para novo projeto de colonização no Sul.
Depois de dois meses de viagem, em 4 de junho de 1824, o navio Anna Louise chegou ao Rio de Janeiro com mais de 300 pessoas a bordo, a maioria soldados. O bergantim São Joaquim Protector trouxe colonos a Porto Alegre, de onde saíram em pequenos barcos até a desativada Imperial Feitoria do Linho Cânhamo, fazenda estatal onde escravos produziam cordas para navegação. Surgia a Colônia Alemã de São Leopoldo.
Os primeiros 39 imigrantes ficaram em galpão até a demarcação dos lotes. No livro 1824 (editora Citadel), o escritor Rodrigo Trespach lembra que eles chegaram ao Porto das Telhas, atual Praça do Imigrante, de São Leopoldo, provavelmente no "dia 23 de julho ou logo depois, no dia 24, ainda que a historiografia tenha consagrado, por uma série de equívocos, o dia 25".
A oferta de terras foi o grande atrativo para as famílias. No início, recebiam 77 hectares, uma enormidade para quem vivia em pequenas propriedades ou nas cidades. O território da atual Alemanha era dividido como uma colcha de retalhos, formado por reinos, principados, cidades livres, etc. Meu antepassado Nikolaus Staudt, por exemplo, consta na lista de imigração como prussiano.
A imigração não pode ser tratada como um conto de fadas. Muitos morreram nas viagens. Nas levas de colonos, vieram trabalhadores junto com baderneiros. A divisão de terras, em especial, causou muitas brigas de vizinhos.
Na primeira fase da colonização, até 1830, São Leopoldo recebeu quase cinco mil pessoas, praticamente a metade da população de Porto Alegre. As famílias cansadas das guerras na Europa logo se viram em meio aos conflitos da Revolução Farroupilha.
Depois do fim da guerra civil, novas ondas migratórias trouxeram germânicos ao Rio Grande do Sul. A colonização transformou a economia da província, que era baseada no trabalho escravo dos latifúndios. O colono derrubou matas e construiu cidades.
O ano de 1824 foi apenas a largada. Imigrantes de muitas origens buscaram uma vida nova no sul do Brasil nos séculos 19 e 20.