A obra da primeira ferrovia do Rio Grande do Sul começou em 26 de novembro de 1871. Há 150 anos, convidados acompanharam a largada da construção da estrada de ferro em São Leopoldo, no Vale do Sinos. A principal ligação entre a capital e a colônia era pelo rio, com transporte de cargas e pessoas. A ferrovia entre Porto Alegre e São Leopoldo foi inaugurada em abril 1874 e a extensão até Novo Hamburgo ficou pronta em 1876.
A estrada de ferro foi construída pelo britânico John Mac Ginity, que celebrou contrato com o governo da província em 1869. Ele ficou responsável pela obra, custeio e operação da linha. Em troca, recebeu isenção de taxas alfandegárias por 10 anos para importação de trilhos, máquinas, materiais e outros instrumentos. O governo também garantia pagamento de juros sobre parte do capital investido. Pelo contrato, não poderia possuir ou empregar escravos. O combustível do trem sairia das minas de carvão de Arroio dos Ratos.
Mac Ginity comandou a The Porto Alegre and New Hamburg Brazilian Railway Company Limited, com sede em Londres. Para financiar a implantação da ferrovia, lançou ações no mercado na Inglaterra e no Brasil. Em propaganda em inglês, anunciava a província como "uma das mais ricas do Império brasileiro, com um clima semelhante ao da Espanha". Na busca por investidores, falava dos colonos alemães na região de São Leopoldo e do potencial de lucro de 11% ao ano.
O negócio não foi rentável como o prometido. Consta que acionistas, muitos colonos, amargaram prejuízos. Pelo relatório do presidente da província em 1870, Mac Ginity conseguiu vender 1.460 ações em Porto Alegre, 705 em Rio Grande e 4.471 em São Leopoldo. Em 1886, outro relatório mostra que a empresa operou com déficit em todos os anos desde a inauguração da ferrovia.
As relações do inglês também não foram fáceis com a Câmara Municipal de Porto Alegre. Depois de muita discussão, a estação foi construída na esquina das ruas da Conceição e Voluntários da Pátria. A passagem do trem pela Rua Voluntários da Pátria gerou reclamações de moradores e políticos. No primeiro trecho de 33 quilômetros, existiam as estações Porto Alegre, Canoas, Sapucaia e São Leopoldo.
Os prédios de Porto Alegre e São Leopoldo eram iguais, trazidos da Inglaterra e montados aqui. A comunidade da cidade do Vale do Sinos reconstruiu e reinaugurou em 1985 a estação, ocupada pelo Museu do Trem. A reconstrução obedeceu as características originais. Uma curiosidade é a proteção das paredes com zinco. Os ingleses estavam preocupados com o risco de ataques incendiários de indígenas.
Em um mapa ferroviário de 1898, aparecem as estações Porto Alegre, Navegantes, Canoas, Sapucaia, São Leopoldo, Neustadt (renomeada depois como Rio dos Sinos) e Novo Hamburgo. A linha cresceu no século 20, indo até Canela. Os trechos foram desativados aos poucos. Entre Taquara e Novo Hamburgo, por exemplo, foi fechado em 1964. A linha da Trensurb ocupa parte do leito da antiga ferrovia de Porto Alegre até Novo Hamburgo.
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