Na infância, nas minhas poucas vindas a Porto Alegre, uma experiência inesquecível foi passar com carro e ônibus pelo Túnel da Conceição. Lembro da escuridão e dos ruídos causados pelos veículos, ou até por alguns gritos da gurizada na janela dos carros. Desde o período de obras, o túnel construído para melhorar as condições do trânsito atraiu a atenção de moradores e visitantes. No início do século 20, a necessidade de corte de morro para ligar dois pontos de grande movimento da região central da cidade já constava em planos da prefeitura.
A obra, na altura da Rua da Conceição, começou em 31 de março de 1970. Em agosto, poucos meses depois do início, os operários das duas frentes de escavação se encontraram, a uma profundidade de 14 metros. Os túneis e as elevadas, que integraram a Primeira Perimetral, foram considerados a grande realização da administração do prefeito Telmo Thompson Flores, que quase diariamente visitava as obras.
Em novembro de 1971, o Lions Clube Centro chegou a oferecer um almoço ao prefeito dentro do túnel em obras. Colocaram mesas e serviram um churrasco para aproximadamente 200 convidados. A construção do complexo viário foi realizada pela empresa Servix-Rossi. Antes mesmo da conclusão, em abril de 1972, o primeiro carro particular a cruzar o túnel foi da reportagem de Zero Hora. A equipe circulou em um das pistas no sentido da Avenida Osvaldo Aranha para a Avenida Alberto Bins.
Para a realização das obras, a prefeitura precisou desapropriar 28,8 mil metros quadrados de área, incluindo 89 prédios. O túnel tem duas galerias, uma sobre a outra. A maior é de 241 metros de extensão, no sentido bairro-centro. O sentido contrário tem 142 metros. As elevadas são continuação das galerias. A maior preocupação nas escavação foi para não abalar as estruturas da Igreja da Conceição.
Em 5 de novembro de 1972, domingo da grande inauguração, uma multidão caminhou em direção ao local. Famílias inteiras, até com crianças de colo, percorreram o túnel, disputando espaço com os veículos. Parecia que todos motoristas queriam passar pelo local no primeiro dia. O trânsito ficou um caos. As ruas Santo Antônio e Garibaldi, ligações anteriores entre as avenidas Farrapos e Osvaldo Aranha, estavam vazias.
Depois dos transtornos causados pela curiosidade inicial, as melhorias no trânsito foram evidentes. O Túnel da Conceição, nestes 50 anos, virou um dos pontos de referência de Porto Alegre.
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