Com frequência, estou procurando uma história nos jornais antigos e encontro outras pouco conhecidas ou até completamente esquecidas. É o caso que compartilho com vocês nesta coluna, baseada nas notícias do jornal A Federação de agosto de 1908. Poucos meses depois do início da operação dos bondes elétricos em Porto Alegre, um inglês responsável pelo novo transporte morreu da forma que jamais poderia imaginar.
O engenheiro John Wilner ajudou a implantar o moderno sistema de bondes elétricos na cidade no início do século 20. Com maior velocidade, os veículos ligaram o Centro aos bairros, chamados de arrabaldes. A Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense e a Companhia Carris Urbanos já operavam bondes puxados por mulas e burros. Com a fusão das duas, nasceu a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, responsável pela circulação do primeiro bonde elétrico.
Em 9 de agosto de 1908, depois do jantar na noite de domingo, Wilner saiu de casa a cavalo. Ele morava com a família na Rua Voluntários da Pátria. Quando cruzava pelos trilhos do bonde, caiu o chapéu. O inglês parou para o recolher e não viu a aproximação do bonde da linha Navegantes. O veículo, em velocidade máxima, atingiu o engenheiro e o cavalo, que morreram no local. De acordo com passageiros, o motorneiro não poderia evitar o choque. O engenheiro tinha 28 anos, era casado e deixou dois filhos pequenos.
Em nota após a tragédia, o jornal A Federação cobrou providências aos diretores da empresa Força e Luz, ressaltando que desde o início dos trabalhos, que ainda não estavam inaugurados oficialmente, chamava a atenção para a rapidez na condução dos elétricos. Realmente, em outras notícias naquele ano foram registrados acidentes, como colisões e atropelamentos.
Desde 10 de março de 1908, estavam em operação os bondes elétricos. As primeiras linhas foram Menino Deus, Glória, Teresópolis e Partenon. Os acidentes não eram raros em uma cidade que crescia e tinha nas ruas a circulação de carroças, cavalos, pedestres, ciclistas, bondes e os primeiros automóveis.
Por ironia do destino, John Wilner morreu atingido pelo bonde que recém ajudara a instalar para transportar os porto-alegrenses com mais rapidez, conforto e segurança.
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