O surgimento dos automóveis provocou uma série de transformações nas cidades. Uma regra fundamental para evitar acidentes foi a escolha do lado de circulação nas ruas. A mão-inglesa foi escolhida em vários municípios gaúchos no início do século 20. Os automóveis trafegavam pelo lado esquerdo da via.
A capital gaúcha e outras cidades usavam a contramão do nosso trânsito atual no Brasil. O Regulamento da Inspetoria de Veículos de Porto Alegre, publicado em junho de 1927, deixava claro que todo veículo deveria ser "conduzido junto à guia do passeio esquerdo". Naquele ano, a Intendência Municipal estabeleceu muitas regras para uso de veículos e circulação na cidade.
Os primeiros carros no mundo seguiram o fluxo das carroças e cavalos. Na mão-inglesa, à esquerda. A mão-francesa, a nossa atualmente, é pela direita. Os Estados Unidos, terra de Henry Ford, acompanharam os franceses. O jornalista Irineu Guarnier Filho lembra que os primeiros carros estrangeiros no Rio Grande do Sul vinham principalmente do Uruguai, que adotava a mão-inglesa. No livro Paixão Sobre Rodas, em parceira com o Eduardo Scaravaglione, recorda que o volante geralmente era do lado direito, como no caso do primeiro automóvel que desembarcou em Porto Alegre, um De Dion-Bouton, de fabricação francesa, comprado pelo empresário Januário Grecco em 1906.
Eu e você poderíamos dirigir até hoje na "contramão" se não fosse a mudança promovida em 1929. A diretoria de tráfego de Porto Alegre comunicou nos jornais que todos automóveis e carroças deveriam circular pelo lado direito das vias a partir de 12 de dezembro. Pela ordem, deveriam reduzir ao máximo a velocidade nos cruzamentos até 20 de dezembro, em um período de adaptação à novidade. Em caso de dúvida sobre a direção a ser tomada, eram orientados a parar o veículo para evitar acidente.
A justificativa para a mudança foi que poucas cidades do Brasil adotavam o padrão britânico. A Carris precisou mudar trilhos e a rede aérea de energia elétrica dos bondes. A empresa tinha também 16 "auto-ônibus" e os motoristas foram orientados a não passar dos 20 km/h nos primeiros dias.
Os carros da época tinham placas com três ou quatro números. Quem cometia infrações era convocado pelo jornal para pagar as multas. Entre as irregularidades mais comuns já estavam excesso de velocidade, imprudência e estacionamento em local proibido.
Com a mudança feita em Porto Alegre, a Associação de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul orientou outros municípios a inverterem o sentido de circulação. Prontamente, os intendentes começaram a abandonar a mão-inglesa.
Colabore com sugestões sobre curiosidades históricas, imagens, livros e pesquisas pelo e-mail da coluna (leandro.staudt@rdgaucha.com.br)