A Carris chega aos 150 anos em meio a dúvidas sobre o futuro. A prefeitura de Porto Alegre quer vender a empresa de ônibus, mas não sabe se surgirão interessados, por isso não descarta a liquidação. A Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense, fundada em 19 de junho de 1872, começou operando a linha de bondes do Menino Deus.
A primeira diretoria teve Themistocles Petrocochino como diretor-presidente, eleito em assembleia geral dos acionistas. Os "bonds" foram importados dos Estados Unidos e a garagem ficava na atual Avenida João Pessoa. Em trilhos de madeira, eram puxados por mulas ou burros.
A nova empresa chegou para substituir a primeira que operou, de forma precária, um bonde na cidade a partir de 1864. Considerando o atual traçado de Porto Alegre, o médico e pesquisador Ronaldo Bastos conta que os trilhos saiam da região da Praça Argentina pelas avenidas João Pessoa e Azenha, onde entravam na Rua Botafogo e seguiam até a Avenida Getúlio Vargas. O ponto final ficava em frente à igreja do Menino Deus.
A Carris fez a inauguração do novo bonde em 4 de janeiro de 1873. Em dia festivo na cidade, seis carros estavam embandeirados para a primeira viagem oficial. O presidente da província e o bispo embarcaram no bonde que ia à frente. No Menino Deus, foram recebidos com "finos doces e licores", como descreveu o jornal O Constitucional. Com o tempo, outras linhas surgiram e o ponto de partida passaria para a Praça da Alfândega.
Em 1893, outra empresa entrou no mercado de transportes. A Companhia Carris Urbanos começou a operação da linha Independência, seguida do Partenon e do São João. O coronel Manoel Py, banqueiro e empresário, foi o empreendedor da nova sociedade, que teve ações vendidas na cidade.
As duas empresas de bondes se fundiram em 1906 para criar a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, responsável pela circulação do primeiro bonde elétrico dois anos depois. As mulas e burros só deixaram de puxar os carros em 1914.
Em 1926, a empresa é renomeada como Cia Carris Porto-Alegrense. Em seguida, passaria a ser administrada pela empresa norte-americana Electric Bond & Share. O primeiro ônibus da companhia chegou ainda antes da virada para a década de 1930.
Em 1952, a prefeitura decidiu encampar a empresa após uma greve. A Carris, até hoje sob controle do município, retirou das ruas os últimos bondes elétricos em março de 1970. Eles ficariam na história, porque foram muito importantes na formação da cidade. Os bairros cresceram no entorno das linhas.
Colabore com sugestões sobre curiosidades históricas, imagens, livros e pesquisas pelo e-mail da coluna (leandro.staudt@rdgaucha.com.br)