O presidiário Júlio de Castilhos Mendes Pettinelli estava obstinado em conseguir a liberdade. Não importava como seria. O criminoso cumpria pena de 15 anos de reclusão por roubo em Porto Alegre. Ele estava desde 1947 na Casa de Correção, o Cadeião, de onde escapou cinco vezes.
Em maio de 1955, tentou fugir da cadeia que ficava na região da Ponta do Gasômetro. Ao lado de outros dois apenados, foi flagrado tentando deslocar a laje de um banheiro. Pettinelli foi o primeiro descoberto e ainda tentou, assoviando uma música, alertar os companheiros.
Enviado à Ilha do Presídio, cercado pelas águas do Guaíba, não se intimidou. Ele protagonizou em 11 de novembro de 1956 uma das mais incríveis fugas de cadeias do Rio Grande do Sul. A Ilha das Pedras Brancas, que abrigou presídio, fica no meio no lago, entre Porto Alegre e Guaíba.
Pettinelli, 27 anos, e o italiano Ettore Capri, 40, fizeram uma balsa improvisada com duas tábuas e dois panelões da cozinha. Eles entraram na água numa noite de domingo e, por cinco horas, lutaram contra o vento e as ondas. Chegaram à margem no lado da cidade de Guaíba.
Capri ficou apavorado, já que não sabia nadar. Eles usaram remo improvisado. Durante a empreitada, se arrependeram, mas já era tarde para voltar. Temeram, em vários momentos, a morte. Não acreditavam mais que pisariam em terra firme. As roupas foram destruídas na tentativa de garantir que as panelas e as tábuas não se desprendessem. Pettinelli estava nu quando chegou à praia.
Em Guaíba, Pettinelli conseguiu calça e camisa com um agricultor. Os dois fujões caminharam pela praia em busca de ajuda. Inventaram que eram pescadores e precisavam salvar o barco emborcado, conseguindo uma lancha emprestada. Seguiram em direção a Porto Alegre.
A polícia estava nas buscas e encontrou o agricultor que fornecera as roupas ao presidiário. Na sequência, descobriu o empréstimo da lancha. Não demorou para os policiais localizarem a embarcação no armazém C-1 do Cais do Porto. Os foragidos acabaram presos depois de 30 horas da fuga da ilha. Retornaram para a prisão, não mais na Ilha do Presídio.
Em 1959, Pettinelli voltou ao noticiário policial. No Dia dos Pais, conseguiu autorização para sair da prisão, com escolta, e visitar o pai. Um guarda foi ao lado, mas não conseguiu evitar a fuga. O criminoso não queria o almoço familiar, mas a liberdade.
Ele seguiu para o Rio de Janeiro, onde morava uma irmã. Voltou a cometer crimes até ser preso. Viveu 28 anos na cadeia. Em Porto Alegre, se casou e chegou a publicar um livro com reflexões sobre o sistema prisional.
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