Os casos de violência contra a mulher no Brasil não cessam. Ao contrário. A cada mês, são despejados sobre nosso colo números que evidenciam um problema gavíssimo, uma questão social. A despeito de homicídios caírem, de latrocínios registrarem queda, os feminicídios não arrefecem. O que as estatísticas nos contam é que prevalece o imaginário de que a mulher é propriedade do homem e, caso ela discorde, corre o risco de morrer.
Quer se separar e não permanecer mais ao lado dele? Toma um tiro.
Deseja seguir com a gravidez com a qual ele não concorda? Morra.
Por que homens continuam a entender corpos de mulheres como de sua propriedade?
Contra Crislaine Elisio foram facadas, dentro de casa. Contra Brenda, que havia recém descoberto a gravidez, um mata-leão — golpe que provoca asfixia. Já contra Sirlei Canabarro, uma mulher humilde e batalhadora, um tiro de espingarda. Três casos gaúchos em que o homem entendeu que o poder e o controle pertenciam a ele. À mulher, que não o obedeceu, restou o caixão.
No caso mais recente, até o fechamento desta coluna, Paola Dornelles, de 24 anos, chegou a registrar ocorrência contra o ex-companheiro, por perseguição, diante do medo de ser morta. Estava certa. Ela seria assassinada com dois disparos, dias depois.
O que quero chamar atenção nesse espaço é que já passou da hora de encararmos o feminicídio como questão exclusivamente policial. Não que ações neste aspecto não sejam importantes, é fundamental investir em delegacias especializadas, em investigação para punição dos culpados e no fortalecimento da rede de medidas protetivas.
Contudo, é também muito necessário que trabalhemos por uma transformação cultural e comportamental. Para isso, é necessário educar. Ou melhor, reeducar. Por que homens continuam a entender corpos de mulheres como de sua propriedade? Por que tanta dificuldade em aceitar que ela trilhe um caminho diferente? Urge um plano de ações, um levante nacional, uma conclamação da sociedade civil.
Neste sentido, é absolutamente bem-vinda a campanha Feminicídio Zero, lançada pelo governo federal, que mobiliza todos os setores da sociedade, de empresas até clubes de futebol, para prevenir casos de violência contra as mulheres. É preciso agir.