É de corar as carpas do Palácio da Alvorada a falta de um posicionamento assertivo do governo brasileiro e que dê o correto nome ao que acontece na Venezuela. Para além da não apresentação das atas eleitorais, que comprovariam um resultado fiel à escolha dos eleitores, já passa de mil o número de presos pelo regime de Nicolás Maduro, incluindo ao menos quatro jornalistas. A denúncia é de ONGs ligadas aos direitos humanos.
Tem nome o regime em que a palavra do ditador é a lei
Alguém tem dúvida sobre como chamar um líder sem apreço pelas regras, que prende opositores e persegue quem conteste seu poder? Tem nome o regime em que a palavra do ditador é a lei. No caso de maior repercussão, María Oropeza, chefe regional da campanha adversária, foi presa e transmitiu, em imagens, a própria detenção. Circula nas redes sociais o vídeo do momento em que agentes da Direção de Contrainteligência Militar forçam o portão da sua residência. Era noite e, segundo ela, não havia mandado judicial para tal.
– Estão entrando na minha casa de maneira arbitrária, não há nenhuma ordem de busca. Estão destruindo a porta, eu realmente peço ajuda, peço auxílio a todos que puderem.
Olhemos, então, o posicionamento do Brasil. A cumplicidade com Maduro já seria constrangedora. Torna-se mais grave e absolutamente incoerente quando contraposta ao apelo feito pela campanha de Lula (e do PT) em 2022, no sentido de salvar a democracia no Brasil. Um movimento correto, registre-se, diante de golpistas instalados na estrutura pública. A Polícia Federal investigou e trouxe até vídeos de reuniões em que se falou abertamente sobre “virar a mesa”, com a participação do então presidente Jair Bolsonaro.
Foi na direção de combater esse tipo de absurdo que Lula apontou parte de seu discurso de posse, quando disse estar pronto para reagir “a quaisquer ataques de extremistas que queiram sabotar e destruir a nossa democracia”. Na teoria, irretocável. Pena que a valentia ocorra da porta para dentro. Com arbítrio externo, veja bem, melhor contemporizar. Se for de um aliado, claro.
Barbaridades antidemocráticas devem ser repudiadas, assim como os atos violentos contra opositores na Venezuela. Um bom começo seria chamar as coisas pelo nome que têm.