Em tempos de ataques odiosos nas redes sociais, levantar-se para abraçar um opositor é um risco. A despeito disso, o ex-juiz federal Sergio Moro, hoje senador, foi ao encontro do mais novo integrante do STF, Flávio Dino, para cumprimentá-lo na sessão em que foi sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça nesta quarta-feira (13).
O talento da repórter fotográfica Gabriela Biló, da Folha, renderia outros ataques a ele nas redes: a câmera capturou um cochicho entre os dois seguido de risadas. Como contou a colunista Bela Megale, Dino queria saber se poderia contar com o voto do ex-juiz da Lava Jato e algoz de Lula.
Aqui não iremos analisar se Moro deu voto favorável ou contra a aprovação de Dino (ele manteve o voto secreto). Para isso, já há juízes virtuais suficientes.
Mas há algo importante a ser registrado quando dois políticos de campos opostos conseguem estabelecer um diálogo razoável, ou mesmo um cumprimento educado. Ninguém sugere aqui que sejam amigos ou concordem. Mas a civilidade poderia ser regra no comportamento de líderes da nação.
"Tenho diferenças profundas e tenho sido crítico, mas não perderei a civilidade", disse o ex-Lava-Jato durante a sessão de sabatina.
A polarização (e a repercussão das redes) tem nos afastado do caminho civilizatório não é de hoje. Basta lembrar do caso do guarda municipal assassinado por um policial federal em Foz do Iguaçu, no Paraná _ apenas para citar um caso. Um era petista o outro, bolsonarista.
Aliás, nem os almoços em família estão a salvo. O Natal está chegando e a ideia de que surja o assunto Lula x Bolsonaro durante a ceia causa mais arrepios do que a piada do pavê.
"Ah mas Sergio Moro estava agindo com intenção", dirão alguns, prevendo que Dino possa herdar algum processo em que seu nome esteja envolvido. Ingenuidade seria acreditar que Lula não fez o mesmo ao indicar seu ministro da Justiça para a vaga de Rosa Weber.