A pavimentação de uma candidatura à presidência em 2022 não será uma tarefa fácil caso Eduardo Leite (PSDB) esteja mesmo disposto a enfrentar João Doria — dentro do próprio partido — e mesmo outros adversários na corrida ao Palácio do Planalto. A possibilidade foi anunciada a partir de um almoço realizado no Palácio Piratini, na semana passada, quando deputados e líderes do PSDB o convocaram para percorrer o país apresentando-se como alternativa ao atual governador de São Paulo.
Ainda que não admita oficialmente, Doria já se apresenta fardado para chegar à Presidência da República e elegeu o presidente Jair Bolsonaro como alvo público e inimigo político, de olho em 22.
No caso de Leite, que aceitou a convocação de líderes tucanos, pessoas próximas já alertaram para pedras que podem — e devem — surgir no caminho. O governador gaúcho conta com a simpatia do mercado, que enxerga como positivas as reformas promovidas no Estado do Rio Grande do Sul. Contudo, Doria também conta com players fortes a seu favor e há quem identifique digitais dele na tentativa de colar em Leite a marca do grupo de Aécio Neves.
A divisão interna do PSDB gerou troca de farpas públicas e preocupou líderes tucanos importantes, como Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente telefonou para Leite assim que soube da movimentação para alçá-lo como candidato ao Planalto.
Em atrito público com Aécio, Doria chegou a defender publicamente a expulsão do ex-governador de Minas Gerais do partido. Como se sabe, Aécio perdeu prestígio e capital político ao ver seu nome envolvido em escândalos revelados pela Operação Lava-Jato. Nos bastidores, Doria creditou a Aécio o movimento para angariar votos ao então candidato à presidência da Câmara, Arthur Lira, aliado de Bolsonaro e eleito para o comando da Casa.
— Ele (Leite) precisa ficar atento com um discurso que está se formando de que ele está do lado do grupo do Aécio. O que ele já explicou, mas Doria está mobilizando gente nas redes sociais para tentar emplacar essa versão — observou um interlocutor.
Para além do movimento do governador paulista, caso se coloque oficialmente na disputa, Leite terá que estar ciente da disputa a ser travada junto ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que conta com a máquina pública e demonstrou forças políticas atuantes no Congresso a partir de uma aproximação com o grupo conhecido como "centrão".
Aí uma segunda pedra no caminho. No plano de reorganização das finanças do Rio Grande do Sul, enquanto governador, Leite ainda precisa contar com o governo federal para conseguir aderir ao Regime de Recuperação Fiscal. O plano é uma espécie de socorro da União para Estados com dificuldades financeiras.
A boa vontade do governo pode se transformar em péssima caso Bolsonaro perceba um potencial adversário na disputa em 2022.
Pessoas próximas ao governador, entre eles o próprio secretário da Fazenda, Marco Aurélio Cardoso, temem que uma eventual reação de Bolsonaro possa ocorrer no sentido de atrapalhar ou dificultar as negociações para adesão ao plano, visto como fundamental para que o Estado possa dar sequência ao ajuste nas contas públicas.