A vitória da defesa do ex-presidente Lula na segunda turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento sobre a troca de mensagens entre autoridades da Operação Lava-Jato, tem digitais do presidente da República, Jair Bolsonaro. Isso porque foi o atual chefe do Executivo o responsável pela indicação do mais novo ministro da suprema corte, Kássio Nunes Marques.
Ele ocupa a cadeira deixada pelo ministro decano Celso de Mello, que se aposentou no final do ano passado ao completar 75 anos.
Nesta terça-feira (9), Nunes Marques acompanhou os votos do relator, Ricardo Lewandowski, e dos ministros Gilmar Mendes e Carmen Lúcia, na Segunda Turma. Com isso, ficou rejeitado o recurso de procuradores da Lava-Jato no Paraná contra o acesso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a mensagens apreendidas na Operação Spoofing.
Cabe lembrar: a indicação por parte de Bolsonaro foi festejada pela classe política no Congresso, unindo diferentes partidos. Na ocasião, o senador Ciro Nogueira (PP), que é alvo da Lava-Jato, cumprimentou o presidente nas redes, afirmando que Nunes Marques era considerado "um dos desembargadores federais mais produtivos entre seus pares" e "todos que conhecem a sua trajetória sabem da competência e comprometimento" com o seu trabalho.
Outro elogio veio do senador Renan Calheiros (MDB), também alvo de investigações. Quando da indicação por parte do presidente, Calheiros disse que a escolha de Marques "elevaria" o nível do STF. Renan, como se sabe, é crítico feroz da atuação de Sérgio Moro e dos procuradores que compunham a força-tarefa que investigou o escândalo de corrupção na Petrobras. Ele defende, inclusive, anistia aos hackers que tiveram acesso às mensagens trocadas por integrantes da força-tarefa.
Mensagens
E por que, afinal, Lula insiste na publicidade das conversas?
A defesa pretende tentar reforçar as acusações de que Sergio Moro, ex-juiz federal da Lava-Jato e ex-ministro de Bolsonaro, encarava o petista como um "inimigo" ao condená-lo a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O resultado do julgamento desta terça, portanto, pode pavimentar o caminho para a defesa de Lula reforçar as críticas à atuação de Moro e tentar derrubar, por exemplo, a condenação que lhe foi imposta no processo do triplex do Guarujá.