Para além da derrota do populismo e das posições xenófobas de Donald Trump, a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos tem um motivo a mais para ser destacada, no contexto social: a vice-presidência será ocupada pela primeira vez por uma mulher. E uma mulher negra, filha de imigrantes — pai jamaicano e mãe indiana.
Kamala é a primeira mulher, mulher negra, indiano-americana e asiática-americana a ser eleita vice-presidente dos Estados Unidos.
E por que isso é importante?
Por causa de uma palavra um tanto batida, mas absolutamente necessária: representatividade. No dicionário, substantivo feminino. Na vida, um cenário em que uma parte da população, em geral menos favorecida, percebe-se com condições reais de ocupar espaços de poder e de decisão.
Significa dizer que Kamala será absolutamente comprometida com a pauta da diversidade? Não. E muito menos que será blindada de críticas por sua condição de mulher negra. Não se trata disso. O que deve ser destacado é o fato de que pela primeira vez o posto de vice-presidente da nação mais poderosa do mundo será ocupado por uma representante negra feminina e, como destacado pela própria, ela não será a última a fazê-lo.
Como bem observado por Ana Cristina Rosa, na Folha, a representatividade "não diz respeito necessariamente a minorias quantitativas, mas também a grupos numerosos que são minorizados em termos de representação. É sentir-se capaz a partir da linha do exemplo, independentemente de rótulos e preconceitos", assinalou a jornalista em artigo publicado nesta segunda-feira (9).
Em uma sociedade que majoritariamente assume um padrão eurocêntrico como "correto, perfeito e irrefutável (mesmo que de forma involuntária)", como assinalou em artigo o jornalista Jordão Farias, é histórico — e também simbólico — que vejamos homens e mulheres negras exercendo cargos de liderança e ocupando espaços de poder. Daí a necessidade de ações afirmativas, como o bastante comentado trainee do Magazine Luiza.
Mais do que nunca a é preciso lembrar Angela Davis, ao dizer que "quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela". A eleição de Kamala é maior que a de Biden neste sentido. A sociedade toda ganha quando a diversidade se torna realidade.